A Igreja Sob a Luz da Pós-Modernidade – Como a Pós-Modernidade Afetou a Igreja

Dias atrás postei em meu site o artigo Uma Nova Ordem. Abordei ali que as eras não são estanques, mas avançam uma sobre as outras, ficando ajustadas, pelo menos durante um século até que a era anterior dê lugar à nova. Que a era da lei ainda existia e já havia sinais da era da graça. Falei também sobre a era digital que entrou e a era do papel que está passando. A era digital com seus minúsculos chips substituiu as grandes válvulas dos transmissores de rádios e dos aparelhos de televisão. Até mesmo a era do código de barras já está passando nos países mais adiantados e dando lugar a outros tipos de códigos, mais completos.

Se no dia de Pentecoste, dois mil anos atrás, Pedro entendeu que estava entrando nos últimos dias, imagine o que ele diria se vivesse em nossos dias: “E acontecerá nos últimos dias” (At 2.17).

É preciso entender que Deus tem um tempo, o kairós, enquanto a humanidade usa o kronós. O kronós – tempo do homem é medido pelas estações, pela leitura do universo, pelo movimento dos astros e dos sinais dos céus. Deus estabeleceu os astros – o Zodíaco – para que o homem entendesse os tempos, o kronós. (O zodíaco é ciência pura, nada tem a ver com astrologia, que é coisa que as pessoas usam para adivinhações). Já o tempo de Deus, o kairós não é medido pelo universo, mas por critérios divinos que nos são desconhecidos, o que pode ser depreendido de Gálatas 4.4 que diz: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos”.

Neste artigo gostaria de abordar com meus leitores dois temas centrais: Aprendendo a ver os sinais dos tempos e como os espíritos enganadores entram na igreja e nos ministérios, mas, sou obrigado a me deter apenas no primeiro item, deixando o próximo para outro artigo.

Aprendendo a ver os sinais dos tempos.

Os profetas de hoje deveriam conhecer os tempos e épocas para saber o que a igreja deve fazer, apontando os rumos que a igreja deve tomar.

No AT os profetas entendiam que falavam de um futuro distante. Pedro explica que aqueles profetas “indagaram e inquiriram” e “profetizaram acerca da graça” que estava reservada pra nós, “investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar” (1 Pe 2.10-12). A mesma visão do tempo do fim é percebida nos escritos de Paulo.

Mas, voltando aos profetas do AT, pode-se ver que Joel profetizou apontando para dias futuros (Jl 2.28-29) e Pedro entendeu que a profecia de Joel dava início aos “últimos dias” (At 2.17).

Daniel teve um vislumbre do tempo de Deus e exclamou: “Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder; é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz” (Dn 2.20-22).

No fim de sua vida ouviu de Deus as palavras: “Vai, Daniel, porque estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados, embranquecidos e provados; mas os perversos procederão perversamente, e nenhum deles entenderá, mas os sábios entenderão” (Dn 12.9-10), diferentemente de João que ouviu de Jesus advertência diferente: “Não seles as palavras deste livro, porque o tempo está próximo” (Ap 22.10).

A pós-modernidade

E, dando sequência ao meu artigo sobre a Nova Ordem, quero destacar a influência do pós-modernismo na mensagem evangélica. Os entendidos nesta questão não chegaram a um acordo sobre quando teve início o pós-modernismo. Os esotéricos apontam seu início no alinhamento dos planetas de 1962, outros para o ano de 1982, mas a era pós-moderna não pode ser definida com uma data precisa. Por que? Porque o tempo medido pelo homem é incapaz de medir o tempo de Deus. kronós é o tempo do homem; kayrós o de Deus. No entanto, nos dias de hoje é possível que esteja havendo o encontro do kayrós com o kronós. O tempo de Deus absorve e toma conta do tempo do homem. Por exemplo, na “plenitude do tempo”, diz Paulo, “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos”.

O que implica afirmar que o Império Romano preparou o caminho para a chegada do Redentor. Estradas uniam os países, a frota marítima cruzava os mares, havia unidade nacional em todo império, cidadãos romanos com um único passaporte “europeu”, grego e latim eram idiomas comuns, havia uma cultura universal, etc. A placa com os dizeres sobre a cruz de Cristo mostra a globalização daqueles dias. Foi escrita em latim, hebraico e grego (Jo 19.21). O kayrós e o kronós se encontram: o tempo de Deus preparou o tempo do homem! Hoje, um dos idiomas sobre a cruz seria o inglês, – possivelmente.

Pois hoje o tempo de Deus é perceptível no tempo dos homens. Basta examinar a Bíblia, os acontecimentos mundiais e identificar o “espírito” que age na sociedade e na igreja para perceber este amálgama, esta fusão do kayrós e do kronós. A seu tempo Deus está conduzindo os destinos do mundo, e a igreja, sem o perceber ainda não entendeu que precisa ocupar seu lugar no tempo divino.

Influências da filosofia e do esoterismo

Duas influências básicas agem sobre a igreja sem que esta perceba o laço em que caiu: a filosofia, que é uma coisa humana, e o esoterismo que é espiritual. Da filosofia recebemos tudo o que vem do pós-modernismo e que altera significativamente a mensagem do evangelho, e na parte da religião somos influenciados com o esoterismo que altera substancialmente o compromisso com o evangelho. Óleos santos, ungidos, água orada, abençoada, sal, o judaísmo e tudo o que é tido como santo desde que venha de Israel (óleo de Israel, água do Jordão, distintivos judaicos, candelabros, miniaturas da arca da aliança, bandeira de Israel, etc.). O copo de água abençoada pela oração do missionário, a rosa ungida, e todas as práticas esotéricas roubam de Cristo a essência do Evangelho formando uma “igreja” fraca e descompromissada com sua missão. A geração atual é pobre espiritualmente, mas rica esotericamente.

Da filosofia recebemos a influência sobre nossa teologia, minando as verdades bíblicas com idéias humanas.

Vejamos algumas coisas interessantes sobre o pós-modernismo:

1. O pós-modernismo sugere a existência de uma igreja que se adapte às novas culturas. Como consequência, no caso da igreja brasileira, os cultos perderam aquele toque de reverência e temor diante de Deus – e não estou me referindo a ritmos, porque estes estão presentes em qualquer cultura musical – mas ao “espírito” que se impregnou no povo e na música em que os cânticos entoados fazem dos cultos festas, celebrações, com danças, copiando para dentro dos cultos os estilos musicais globais, sim, das favelas, das sub-moradias, do submundo das drogas e da preguiça. E não sou contra as danças – eu também danço – desde que seja um momento particular trazido pela presença do Espírito de Deus, e não uma programação que faça parte da “liturgia”.

2. O pós-modernismo é marcado por uma tendência a repudiar a possibilidade de qualquer conhecimento seguro e sólido da verdade. É a rejeição de toda expressão de certeza. É a desconstrução sistemática de qualquer reivindicação da verdade, isto é, não se deve dogmatizar em temas como teologia sistemática, divórcio, aborto, relacionamentos sexuais fora do casamento, céu e inferno, porque o pós-modernismo é a rejeição de toda expressão de certeza. Na realidade a incerteza se tornou a nova verdade. Alguns pastores entrevistados em programas televisivos costumam abrir mão da verdade, concordando em parte com os demais, mas jamais discordando, doutra sorte nunca mais serão convidados a quaisquer debates públicos.

Neste sentido o pós-modernismo criou a teologia teísta afirmando que Deus não está no controle do futuro, e que ao homem é dada a autoridade de criar seu próprio destino. Perguntas, como “onde estava Deus” em tal e tal situação são respondidas prontamente com argumentos dessa linha teológica.

3. O pós-modernismo se caracteriza por um espírito de aceitação e de unidade em detrimento da doutrina apostólica. A doutrina passou a ser estudada e discutida em termos culturais e não como verdades absolutas. Mulher submetendo-se ao marido é coisa cultural daqueles tempos, marido como cabeça da mulher tem de ser redefinido como “líder”, mas não cabeça; mulheres ensinando homens tem de ser redefinido como cultura oriental, etc.

Pastores e líderes de todas as denominações podem viver em plena unidade, mesmo que alguns deles estejam no terceiro ou quarto divórcio, que uns creiam na Trindade e outros a neguem; uns aceitam a eficácia do sangue de Jesus Cristo, outros, não bem assim; que uns não liguem para questões como prostituição ou coisa parecida, e que outros sejam radicalmente contrários: o pós-modernismo une todos sob a mesma bandeira, o amor, a distensão, a compreensão e a aceitação mútua.

Esses dias participei de uma reunião com mais de dois mil pastores e o convidado era um tele-evangelista, apóstolo, que pratica abertamente o esoterismo, ungindo e vendendo água, óleos, e que prega somente a cura divina. Pela unidade, vale tudo! Não é mais o Cristo crucificado que une os pastores, mas o Jesus universal aceito por todas as religiões; sim, porque uma coisa é pregar a Jesus Cristo, o crucificado, outra é pregar o Jesus que vende livros, o mestre em psicologia, o vendedor de idéias, o Jesus comercial. O Jesus aceito por espíritas, budistas e ateus.

E o que ocorre hoje é um “espírito” que afeta toda a sociedade, um “espírito” de aceitação e de acomodação em detrimento da doutrina apostólica.

4. Pastores, líderes, bispos e apóstolos passaram a ter “sonhos” políticos de governar a nação. Ocupam cargos políticos alimentando seus sonhos pessoais tirando proveito – proveito financeiro pessoal – à custa do rebanho que Jesus Cristo comprou com seu sangue (At 20.28). Deus os julgará. As cidades em que vivem, não são transformadas socialmente.

John Stott cita o caso do Dr. J.D. Jones que foi convidado a assumir uma cadeira no parlamento inglês e recusou com a seguinte desculpa: “Estou executando uma grande obra, e não posso descer. Teria sido uma ‘descida’ abandonar o púlpito em troca da arena política. Não menosprezo a obra que o parlamento pode realizar para melhorar a situação humana, mas, em última análise, a cura das mágoas do mundo não deve ser levada a efeito pela legislação, mas pela graça redentora de Deus, e a proclamação dessa obra redentora é a obra mais sublime à qual qualquer homem pode ser vocacionado”.

Não se vê apóstolo, verdadeiramente apóstolo, vê-se, isto sim administradores de pirâmides eclesiais que vivem na luxúria, nababescamente sendo servidos por um séquito de discípulos que lhes beijam os pés. Vê-se também apóstolos que se orgulham da mansão em que vivem e não se  contentam com o carro blindado de última geração. Um desses conclamou seu público cristão a que sejam milionários…, pois a pós-modernidade não admite que se conclamem os jovens à renúncia, à entrega pessoal e se dediquem às missões. São os pregadores pós-modernistas que usam táticas e apelos do mundo da autoajuda. Preciso repetir aqui o que disse no artigo anterior:

5. A pós-modernidade permite que líderes pentecostais participem de encontros pela unidade, paz e compreensão mundial com políticos ateus, com positivistas, com líderes religiosos budistas, hinduístas, com os líderes da igreja do Rev. Moon, com líderes afros, e firmam acordos de paz e compreensão, e, percebendo ou não, sutilmente abandonam a mensagem do Cristo crucificado e aceitam a mensagem do Jesus universal. Sim, porque o Jesus universal, aquele Jesus carinhoso, bom, que pregou a paz e viveu entre os homens pode ser aceito por todos os segmentos religiosos. Esquecem que a nova religião universal congrega em seu seio todas as religiões do mundo, e esses líderes pentecostais recebem o Papa da igreja de Roma, reverenciam-lhe, reúnem-se com o líder tibetano exilado, etc., negando o Cristo que esses líderes desprezam.

A era da cruz, da renúncia, do amor a Deus, da dedicação, da confrontação ao pecado, da vida santa vivida na contramão do sistema, lenta e sutilmente vem desaparecendo até que o pós-modernismo domine o cenário mundial. É uma era em que o mundo se reveste de fé, mas não a fé que Jesus espera encontrar em seu regresso.

É preciso ainda falar de como o pós-modernismo trouxe para dentro da igreja não apenas a filosofia humanista, mas também as práticas esotéricas das religiões mundiais.

É muito sutil afirmar que “milhares foram curados pela fé”. Ora, quem cura é Jesus Cristo, tenha o homem fé ou não. É um ato de vontade dele, em primeiro lugar, levada a efeito conforme a disposição do coração do homem. A desilusão vem quando a pessoa não é curada e se martiriza com a idéia de que não tem fé. Seu “sacrifício” na linguagem usada por um bispo-líder tem de ser trazido ao altar. Se não fizer sacrifício, Deus não o aceitará. Você é abençoado se sacrificar alguma coisa. Essa mensagem mentirosa é pregada em cadeia nacional todos os dias, e os evangélicos se acomodam a ela como se fosse uma verdade. Porque sacrifício significa que, para receber alguma coisa da parte de Deus preciso “sacrificar” algum bem, dinheiro, etc. E assim, grande parte dos pregadores que utiliza a mídia televisiva – nem todos – precisa amoldar a apresentação da mensagem do evangelho para poder arrecadar dinheiro e se manter no ar. Não estamos negando que essas igrejas não convertam pessoas; mas, se as convertem, fazem delas uma geração fraca com um evangelho barato e fraco.

Nós, os pentecostais não podemos aderir ao espírito do pós-modernismo, do contrário, em uma geração criaremos uma igreja fraca e descomprometida com a missão evangelizadora. A mensagem que apela às pessoas hoje é a da autoajuda, da riqueza e da prosperidade, contrariamente ao que Jesus ensinou nos evangelhos.

Exemplos desse pós-modernismo podem ser vistos também nas letras dos cânticos recentes que o povo canta nos cultos. Letras que raramente apontam para Cristo, e quase sempre para a pessoa e o que ela pode receber em troca de ter a Cristo. Mas este é tema para outro artigo.

2 thoughts on “A Igreja Sob a Luz da Pós-Modernidade – Como a Pós-Modernidade Afetou a Igreja

  1. Gostaria de saber quais foram as referências utilizadas neste artigo. Estou preparando um artigo e gostaria de citar alguns dos seus tópicos, mas preciso de referencial teórico. Agradeço antecipadamente.

    1. Este é um tema sobre o qual venho lendo e refletindo ao longo dos anos. Um dos pensadores que mais me influenciou com suas matérias em inglês foi Os Guiness – não sei onde encontrar livros dele, mas, ao lado de Francis Schaffer é um pensador sobre os rumos da igreja. Ele aborda a questão do privatismo, pluralismo e do secularismo que afeta a igreja, assunto que foi abordado também no livro Icabode – esqueci o autor. Não tenho, assim, uma fonte específica, mas, off line poderei ajudá-la. Escreva-me sempre.

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