Ceia do Senhor

A seguir apresento um esboço do tema que pode ser usado por meus leitores para pregar nos cultos de ceia:

Texto: 1 Co 10.16,17

Introdução:

Não quero tratar da ceia do Senhor neste sermão da mesma maneira como costumo pregar sobre a ceia no capítulo 11 dessa mesma epístola. Até porque o texto clássico da ceia no próximo capítulo é uma tentativa de Paulo de corrigir os excessos cometidos pelos cristãos quando se reuniam. A ceia naquele tempo era bem diferente do modelo que nós conhecemos nos dias de hoje: Era uma refeição comum em que os irmãos comiam juntos e partiam o pão em memória de Cristo – não o ritual tão comum nas igrejas de hoje. E tinha bastante comida e bastante vinho, a ponto de alguns se embriagarem e outros comerem até demais. Paulo ordena que os que têm fome que se alimentem em casa.

A ceia como conhecemos hoje, que alguns chamam de eucaristia – uma migalhinha de pão e um gole de vinho – só veio a existir séculos depois e era feita individualmente pelo crente antes do nascer do sol, em gratidão pela salvação.

Nestes versículos Paulo trata da ceia sob uma ótica diferente porque associa que algumas pessoas, pensando que estão participando do altar de Deus, participam do altar dos demônios.

Este é um sermão semi-expositivo sobre a ceia, já que não abordaremos versículo por versículo, mas apenas alguns deles.

O pregador pode dividir o versículo 17 em vários segmentos, se o quiser.

1. “Porque nós, embora muitos”.

2. “Somos unicamente um pão”.

3. (Somos unicamente) “um só corpo”.

4. “Porque todos participamos do único pão” (Jesus).

Seguindo essa linha o pregador pode discorrer ponto por ponto, e algumas orientações da importância da ceia são, a seguir, expostas.

I. O que é a comunhão do corpo de Cristo?

A. “O pão que partimos…” é “a comunhão do corpo de Cristo”! O que é a comunhão do corpo de Cristo? (v 16). A que se refere? Ao corpo místico da cruz, ou à igreja?

Primeiramente temos de voltar ao v 16 em que Paulo afirma que “o cálice da bênção, que abençoamos é a comunhão do sangue de Cristo e que o pão que partimos é a comunhão do corpo de Cristo”. Paulo aborda em forma de perguntas, nós expomos o mesmo tema declarando-a uma verdade. Vamos direto ao ponto com nossos ouvintes. Isto é:

1. O cálice que está sobre a mesa e é abençoado, trata-se, definitivamente da comunhão do sangue de Cristo (1 Co 11.25).

2. O pão que partimos é a comunhão do corpo de Cristo (1 Co 11.24).

B) O corpo de Cristo.

1. Paulo trata desse assunto em 1 Coríntios 12. Ele mostra que a igreja é o corpo de Cristo (1 Co 12.27). Conferir com Efésios 4.4,12: “Edificação do corpo de Cristo”.

“Pois quem come e bebe sem discernir o corpo…”.

2. E quando Paulo fala em “comunhão” com Cristo, a que se refere? (Fp 3.7-11).

a) Para o conhecer (Fp 3.10). O que é esta comunhão “com seus sofrimentos”? Só se tem comunhão com sofrimentos, sofrendo juntamente com a outra pessoa.

O evangelho que ouvimos e cremos hoje deixa-nos distante dessa verdade. Recebemos um evangelho fofo, gostoso, que não existe sacrifício, por isso Jesus deixou-nos a ceia para trazer à memória que seguir a Cristo implica sofrimento e sacrifícios. A ceia não fala apenas de comunhão com o corpo místico da cruz, e com a igreja, mas fala de “comunhão com seus sofrimentos”.

b) “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Co 1.9).

c) “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Rm 6.4-5).

II. O que significa um só pão e um só corpo?

É o que Paulo aborda no versículo 17. “Somos unicamente um pão.”

A) Ninguém faz pão com grãos inteiros. Não funciona. Tem que ser com a massa. A liga é feita da massa.

1. “Muitos, mas um só pão”. O grão perde sua identidade. Uns são menores, maiores, gordinhos, magrinhos, brancos, avermelhados, e perdem suas características.

Uma unidade. O pão é feito de muitos grãos que depois de moídos viram farinha. O pão fala dessa unidade. Fala também do corpo. Na igreja não pode existir individualismo, do contrário não haverá pão. Cada crente é moído, misturado e queimado para se tornar pão e depois ser partido.

2. Para virar massa os grãos têm de ser esmigalhados. Se você não perdeu sua identidade e não perdeu seus direitos, você ainda é grão inteiro, e não faz parte do pão e do corpo.

3. Para virar vinho, as uvas têm de ser amassadas.

4. Além de virar massa, são transformados em pão, em alimento. E o pão não é para ornamentar a mesa, mas para ser comido.

a) Nós somos pão partido – Cristo também é partido – para o mundo. Se o mundo não puder se alimentar de nós e de Cristo, então servimos apenas para os demônios.

A lição aqui é que tanto o pão quanto o vinho são feitos de grãos que precisaram ser amassados, perdendo sua característica. Todos são transformados numa igualdade.

5. “Todos participamos do único pão”. Jesus é o pão. Quer dizer, não apenas somos pão; tornamo-nos um pão com Jesus. É um amálgama. Uma unidade.

6. É assim que se cumpre Fp 3.10: “Comunhão dos seus sofrimentos”.

B) Jesus assustou o povo e os discípulos quando se referiu a si mesmo como pão (Ver João 6.53-58).

1. É preciso explicar aos irmãos que o sentido de comer de Jesus não é transubstanciação – isto é – que os elementos pão e vinho se transformem literalmente em carne e sangue como afirmam os católicos.

2. Mas é preciso dizer aos irmãos que não é também um simples memorial, e sim que, comendo de Cristo (simbolizado pelo pão e pelo vinho), tornamo-nos um com ele.

“Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos” (Hb 3.14).

“e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim” (1 Co 11.24).

Cf. 1 João 1.3: “o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo”.

a) Uma pessoa pode participar da ceia e não ser um corpo, nem com Cristo nem com os irmãos.

b) Quando isso acontece o que faz é oferecido aos demônios (1 Co 10.18-21).

C) Ao sermos incluídos no corpo, passamos a ser uma só massa:

“Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1 Co 12.13).

1. “Muitos, mas um só corpo”.

2. O individualismo é uma barreira à unidade do corpo.

a) Nossas reuniões de ceia são muito individualistas. Alguns irmãos sentam nos últimos bancos, tomam a ceia, e saem correndo. São individualistas.

b) Nossas reuniões de ceia são para preencher uma tradição de “partir o pão”. Criamos um ritual e esquecemos da essência.

c) Esquecemos que ao “partir o pão”, partirmos Cristo. A essência da ceia é Cristo e não o ritual em si.

d) Esquecemos que, ao partir o pão, nós também nos partimos…

2. Já a ninguém conhecemos pelo que uma pessoa é, mas por aquilo que ela é em Cristo.

“Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo” (2 Co 5.16).

a) Um médico e uma faxineira sentam-se lado a lado; um juiz e um carpinteiro sentam-se lado a lado, e ninguém conhece ninguém pelo título, pela carne, mas segundo Cristo.

b) No passado alguns de nós fomos os piores pecadores, e agora não somos lembrados do que éramos no passado, mas do que somos em Cristo.

D) Quando é que a ceia se transforma em culto a demônios? (v 21).

1. Quando perdemos de vista a essência da ceia; o sentido do pão; o sentido do vinho. Quando participamos da mesa dos demônios, somos uma massa e um só torrão com eles.

2. Quando perdemos de vista que o Cristo e a igreja são um só pão; e que Cristo e a igreja são também um só vinho!

3. Cristo é o cabeça desse corpo (Ef 4.15-16). “Porque somos membros do seu corpo” (Ef 5.30). Noutro lugar diz: “Ele é o cabeça do corpo, da igreja” (Cl 1.18; 2.17; 3.15).

4. O que nos mantêm unidos na fé e no corpo de Cristo é a ceia do Senhor! Ao tomar do vinho, diga para Jesus: Senhor, eu creio no poder do teu sangue. Ao comer do pão: Senhor, eu me torno um só pão contigo. Eu perco minha individualidade; perco meus direitos. Etc.

Conclusão:

Somos todos farinha do mesmo saco. Se um sofre, todos sofrem. Se um não tem o que comer, dividimos com ele; não havia necessidade entre eles, na igreja primitiva porque aqueles irmãos sabiam e viviam o sentido de pão, e de corpo.

1. “Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem” (1 Co 10.24).

2. “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal” (2 Co 4.10-11).

3. “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29).

4. “Dia após dia, morro! Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho em vós outros, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (1 Co 15.31).

5.  “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).

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