Voz da Verdade: A polêmica

A decisão do Conselho de Doutrina da CGADB em relação à proibição de que se cantem os hinos oriundos da Voz da Verdade é de uma inocência infantil, de pessoas que desconhecem a música e o louvor da igreja, presas que estão nos porões frios do denominacionalismo.

Desde 1978 venho me empenhando no estudo da hinologia da igreja, não só no Brasil como de outros países, e posso resumir em poucas palavras o quão errado essa comissão de doutrina está. Até mesmo coloco em xeque se algum deles estudou música, pesquisou a história e estudou a doutrina de cada hino entoado nas igrejas, especialmente os que foram incluídos na Harpa Cristã.

Então, vou me ater aos hinos da Harpa Cristã que eles tanto defendem como se fosse o arcabouço da verdade – já que a palavra arcabouço está em moda.

  1. Ora, um hino, independente de sua origem tem de expressar a verdade. Neste caso, a verdade bíblica. A letra é que faz um hino ser sacro e não a música. Música sacra foi um período da história em que os grandes nomes da música como Mendelson, Handel e Bach, para citar apenas estes compunham músicas para serem entoadas pela igreja ou porque a cultural musical da época era a igreja que determinava.
  2. Se fossemos decidir a sacralidade de um hino pela melodia ou música, então muitos hinos da Harpa Cristã teriam que ser descartados, porque suas músicas foram escritas por autores não cristãos, e, muitas vezes para serem usadas em salões de bailes, cabarés e prostíbulos, músicas patriotas de outros países, canções de roda das escolas etc. como é o caso de vários hinos da Harpa Cristã. Antes de citar alguns deles, vamos ao ponto seguinte.
  3. O que torna um cântico sacro não são o ritmo, a melodia ou os tipos de instrumentos musicais que o acompanham, mas a letra. Esse é um parâmetro para se examinar a sacralidade ou não de um hino, seja da Harpa, do Cantor Cristão, de Salmos ou Hinos etc. A letra tem de ser bíblica e tem de expressar a doutrina bíblica – uso a palavra doutrina que é a preferida dos irmãos.
  4. Em cada época e em cada cultura o Espírito Santo inspira novas músicas, com novos acordes e ritmos, e, por isso não deixou sequer um modelo de culto, do uso de instrumentos musicais, modelos de culto de ceia ou de batismo, apenas os princípios doutrinários, para que em cada cultura o povo de Deus expressasse sua adoração do jeito daquele povo, seja dançando como os africanos, com alguém conclamando a louvar como no Brasil ou em silenciosas catedrais europeias.
  5. Nesse sentido muitos autores ao longo dos séculos deixaram uma herança musical, como Charles Wesley que escreveu mais de 6.500 hinos – e não encontrei um deles sequer na Harpa Cristã. Como disse certo autor, cada avivamento traz sua própria hinologia. Por isso hoje há os que se levantam contra os cânticos cuja fonte foram a igreja Hillsong ou a Bethel Church e agora a Voz da Verdade.
  6. Deve-se examinar um hino pela letra, e não encontrei nada da doutrina unicista nos cânticos apresentados pela Voz da Verdade, a não ser muita inspiração e letras magníficas. Parece que o tal Conselho da CGADB prefere Sabor de Mel a entoar “Por toda a minha vida eu te louvarei, Senhor”. Enquanto Sabor de Mel é uma letra revanchista, a segunda do grupo Voz da Verdade é de puro agradecimento a Deus.

Esses dias recebi uma mensagem de alguém que escreveu “10 razões por que cantar os Hinos da Harpa Cristã”, e, parece que o autor desconhece a origem de alguns cânticos ali apresentados, porque alguns dos hinos da Harpa não são congregacionais, devido serem de melodias difíceis servindo apenas para cânticos solos, como o hino 380 cuja melodia e letras são difíceis de serem entoadas pela congregação. Em meu canal no YouTube apresento a diferença entre cânticos congregacionais e cânticos solos.

  1. Então a Comissão de Doutrina deveria examinar a origem da música dos seguintes hinos da Harpa: 36 – escrito por Steven Foster, Sweeney River para os cabarés de Nova Orleães, que alguém colocou uma letra cristã saudosista; 205 – que o Paulo Macalão pegou uma canção de rodas irlandesa entoada nos recreios das escolas e colocou uma letra cristã, melodia oficial de “My Bonye Lies Over the Ocean; my Bonnie Lies Over the Sea”; 123 – Cujo autor, Thoro Harris usou uma música popular havaiana, Aloha Oe Ukulele para entoar. E que dizer da música do hino 212, “Os guerreiros se preparam”, cuja música é hoje do hino nacional das Ilhas Fiji?

Basta! Citemos apenas estes!

E na Harpa temos hinos baseados em hinos patriotas inglês, alemão etc. O hino 185 é a música do hino da Inglaterra.

Agora, alterar a letra para que o cântico seja propriedade da Denominação, isto pode, como foi feito com o hino 144 em que se mudou a letra cuja tradução era “Vem a Igreja e Louvemos” para “À Assembleia de Deus Vem comigo”. Ainda que a igreja reunida seja uma assembleia dos santos, usar o nome da denominação alterando sua letra original é um erro e tanto! Originalmente a letra em inglês é: “The Little Brown Church in the Vale”. Por que na reforma da Harpa Cristã não trouxeram a letra original?

A pergunta é: Pode-se usar música popular de qualquer autor desde que tenha uma letra cristã?

A definição de Agostinho de Hipona de um hino já nem serve para nossos dias, porque ele definiu em seu tempo o que é um hino a Deus: (354-430).

“Hinos são louvores cantados a Deus e são cânticos que contêm louvores a Deus. Se existir algum louvor e o louvor não for para Deus, então, não é um hino. E, se houver louvor e louvor a Deus mas não é cantado, não é um hino. É preciso, portanto, para ser um hino que tenha três coisas: Louvor, louvor a Deus e que seja cantado”. (Himns in the Life of Men, p 23).

Há que se entender que à época de Agostinho, os hinos eram limitados ao serviço religioso, enquanto hoje, hinos são compostos em homenagem a várias coisas.

Já o Dr. Canon John Ellerton disse: “Todo sentimento que seja um ato de verdadeira adoração pode se encaixar na definição de hino”. Assim, temos hinos invocatórios, como “Vem Espírito Divino” ou hinos que falam da eternidade.

A letra define o que se deve cantar e não a suposição de que o hino não serve porque aquela igreja prega uma doutrina diferente da nossa. Nesse sentido, devem ser abolidos todos os hinos Adventistas e muitos escritos pela renovação carismática.

Ora, a mesma Assembleia de Deus que condena certos cânticos entoa em seus cultos hinos feitos pelos carismáticos católicos, como “Espírito, Espírito, que desce como fogo” e “Deus está aqui, tão certo como ar que eu respiro”, dos carismáticos da Espanha, e também o cântico de minha autoria, “Na presença dos anjos a ti cantarei louvores”, que hoje é entoado pela Igreja, indistintamente do nome, sejam católicos romanos, protestantes, evangélicos e pentecostais.

Quando uma denominação decide que músicas seu povo deve entoar corre perigo de andar na contramão da história.

2 thoughts on “Voz da Verdade: A polêmica

  1. Tive o privilégio de comer uma pizza ao lado deste grande pastor, aqui em Curitiba.

    Verdade sendo escancarada..chega de hipocrisia..

    Parabéns pastor

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