A Igreja e a Política

Nota: Este artigo foi escrito por Olavo Silveira Pereira vinte anos atrás. Achei por bem postá-lo e deixar que o leitor pense e tire suas conclusões. A opinião de Olavo não representa, necessariamente tudo o que penso, mas o que ele diz deve ser repensado em nossos dias.
Definição: A política é o ramo das ciências sociais que estuda as diversas formas de organização do poder político, bem como sua dinâmica, suas instituições e objetivos.
Como análise sistemática da estrutura e funcionamento do governo, a política apresenta estreita vinculação com outros campos da ciência, especialmente com a filosofia, a história, a sociologia e a economia; mas, não tem nenhuma vinculação com a Bíblia, que condena essas ciências como falsas (1 Tm 6.20-21). Segundo o contexto de Paulo entrar na política é desviar-se da fé.
A política não é originária da Bíblia, mas da filosofia. Não nasceu no coração de Deus, mas do coração dos homens. Ela visa teoricamente o bem-estar do povo, segundo métodos de organização humana e não divina. O primeiro grande legislador grego foi Licurgo. Homem de extraordinária inteligência e nobreza de espírito. Era irmão do rei. Morrendo este, sua cunhada que estava grávida, lhe propôs ocultamente um pacto político. Ela abortaria o herdeiro do trono e ambos se casariam para reinar sobre os gregos. Triunfou no coração de Licurgo a virtude que disse à cunhada: Não aborte o filho para que você não morra acidentalmente. Espera nascer a criança e eu me incumbirei de matá-la; e, assim nos casaremos.
Nascida a criança, Licurgo a tomou nos braços e a levou diante dos maiores da Grécia, dizendo: Eis aqui o novo rei dos gregos. Depois disso, este grande homem, por anos a fio estudou leis que preservassem a dignidade do povo. Implantou as leis, preparou o menino, e o colocou no trono. O que me assombra é que Licurgo, tendo capacidade, talento, inteligência e possibilidade se eximiu de assumir cargos públicos. Com Sólon, o segundo grande legislador grego, aconteceu o mesmo. Afamado pelo que fez à sua pátria, e galgando o maior grau de prestígio, foi convidado a governar o povo, já que ele coordenara as leis. Apesar das insistências não aceitou.
Perguntaram-lhe por que? Sua resposta foi: Eu sei como posso entrar no governo do povo, mas depois não saberei como sair. Não há político, por bom que seja que ao sair da política nos dias de hoje, não saia enlameado.
Como dissemos, a política nasceu da filosofia e não da profecia. O primeiro pensador que escreveu sobre política foi Platão, em sua obra A República. Nesta obra enfatiza que o fim primordial do Estado era tornar os cidadãos mais felizes. Idealizou um tipo de cidade em que o governo seria entregue aos sábios; sua defesa, confiada à classe de guerreiros; enquanto uma terceira classe, privada de direitos políticos, ficaria encarregada da produção. Platão escreveu este livro, pois, no seu tempo a distribuição irregular de riquezas provocava distúrbios sociais criando condições para a implantação de ditaduras, que os gregos chamavam de tirania.
Contudo, o filósofo grego, cuja obra política de maior influência exerceu na antiguidade clássica e na Idade Média foi Aristóteles. Em sua obra defende a propriedade privada, a escravidão, e adota um critério ético para julgar a normalidade de uma constituição política; este é o normal que tem em vista o interesse geral dos governados. Em seus tratados, Aristóteles apresenta três regimes de governo: Despotismo, aristocracia e democracia.
Depois de Aristóteles (384-322 a. C.), nenhum filósofo ou pensador se destacou em matéria de política por mais de 1.500 anos. O primeiro que se ocupou dessa matéria foi Tomás de Aquino (1.225-1.274 d. C.), mas sem muita repercussão. Depois de Tomás de Aquino, Dante, mas também sem grande alcance.
A ciência política, por assim dizer, tomou forma no ano de 1513 pelas mãos de Nicolau Maquiavel, em sua obra O Príncipe, que contém ensinamentos de como conquistar Estados e conservá-los sob seu domínio. Em síntese, um manual do governante. O autor dedicou-o a Lourenço II (1492-1519) potentado da família dos Médicis e duque de Urbino. O monarca inglês Henrique VIII (1491-1547), forjou a anulação do matrimônio com Catarina de Aragão baseado neste livro.
Também Catarina de Médicis (1519-1589), rainha-mãe da França, seguindo os ensinamentos de Maquivael ao jogar católicos contra os protestantes ordenou o famoso massacre da noite de São Bartolomeu (1572) em que 70 mil Huguenotes (calvinistas franceses) foram mortos.
Com isso manteve a soberania para os filhos, indolentes e incapazes de agir maquiavelicamente como a mãe. Essas e outras histórias de ardis, assassinatos e espoliações de governantes foram inspiradas na leitura dessa obra de caráter político, O Príncipe (que repercutiu aqui no Brasil com a morte dos Frances protestantes pelo padre Anchieta no Rio de Janeiro. Sem esquecer que Catarina de Médicis foi também influenciada por Nostradamus, que morreu quatro anos antes do massacre acima referido).
Maquiavel teve alguma importância política trabalhando na chancelaria. Mais tarde foi indicado para segundo chanceler da República. Em 1503 é designado para uma missão junto a César Bórgia tornando-se bons amigos. César Bórgia, segundo narrativa do livro proibido História dos Papas foi amante de sua irmã Lucrécia Bórgia, juntamente com seu corrupto pai, Rodrigo Bórgia ou Papa Gregório VI aquele que mandou enforcar Savanarola. A corrupção era tanta que César Bórgia assassinou seu irmão Fernando Bórgia por ciúmes da impudica Lucrécia. Neste ambiente surgiu no coração de Maquiavel a inspiração para escrever o seu livro. (O registro está na obra História dos Papas, às pp. 301-323 publicada em Lisboa em 1894). Citaremos alguns trechos da obra de Maquiavel, cujo nome, hoje é sinônimo de política.
Nem a religião, nem a tradição, nem a vontade popular legitimam o soberano e ele tem de contar exclusivamente com sua energia criadora.
Os homens mudam de boa vontade de senhor, supondo melhorar, e esta crença os faz tomar armas contra o senhor atual.
Um conquistador, para manter um Estado conquistado deve ter duas regras: Primeiro, fazer extinguir o sangue do antigo príncipe; segundo, não alterar as leis nem os impostos. Assim, em pouco tempo ter-se-á feito a união ao antigo estado.
Os homens devem ser mimados ou exterminados, pois se vingam das ofensas leves; das graves já não podem fazê-lo. Assim, a injúria deve ser tal, que não se tema a vingança.
As injúrias devem ser feitas de uma vez, a fim de que, tomando-se-lhes menos o gosto, ofendam menos. E os benefícios devem ser realizados pouco a pouco, para que sejam mais bem saboreados, e seduzam o povo.
Quem se apóia no povo tem alicerce de barro.
As dificuldades, serão superadas, ora dando-se aos súditos a esperança de que o mal não se prolongará, ora incutindo-lhes o temor da crueldade do inimigo.
Nada é tão instável quanto a fama de poderio de um príncipe quando não apoiada na própria força.
É conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas e não pelo que delas se pode imaginar.
É necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade.
As amizades conquistadas por interesses, e não por nobreza e grandeza de caráter, são compradas, mas não se pode contar com elas no momento necessário.
Existem duas formas de se combater: Uma, pelas leis, outra, pela força. A primeira é própria do homem; a segunda dos animais. Se a primeira é insuficiente, recorre-se à segunda.
É tão simples o homem, e obedece tanto as necessidades presentes, que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar.
Um príncipe não precisa possuir todas as qualidades, bastando que aparente possuí-las. São elas: Piedade, fé, integridade, humanidade e religião.
Os homens julgam mais pelos olhos do que pelas mãos, pois todos podem ver; mas, poucos são os que sabem sentir. Todos veem o que o político parece, mas poucos o que realmente ele é.
Os príncipes devem encarregar a outrem da imposição das penas; os atos de graça, pelo contrário, só a eles mesmos em pessoa, devem estar afetos.
Um príncipe que não seja prudente por si mesmo também não pode ser bem aconselhado.
Os desejos e paixões são os mesmos em todas as cidades e em todos os povos; e sempre existiu quem serve e quem manda, e quem serve de má vontade e quem serve de bom grado, e quem se rebela e quem se rende.
“Os fins justificam os meios. Não há lugar para a moral, e o amoralismo dos meios não prejudica os resultados, se estes são bons. Todos os recursos são válidos para conservar a soberania do Estado. O interesse do Estado é superior aos interesses do povo, e deve ser conseguido a qualquer custo”.
Maquiavel, baseado na invariação do comportamento humano concluiu que quem observa com diligência os fatos do passado pode prever o futuro em qualquer república, e usar os remédios aplicados desde a antiguidade ou na ausência deles, imaginar novos, de acordo com a semelhança de circunstâncias entre o passado e o presente, já que às mesmas causas correspondem os mesmos efeitos.
Assim é a ciência política de Maquiavel, inspirando o despotismo, o interesse pessoal, a hipocrisia, a crueldade, as ações sub-reptícias. Não é o que vemos hoje? Que fazem os cristãos neste ambiente? Em que vão melhorar as condições do povo sentando-se à mesa dos demônios? Quem não passou pela lama sem se sujar? Alegam os políticos crentes que José foi hábil político; que Moisés foi bom político; que Daniel foi político. Mentira. Esses homens foram colocados por Deus ao longo da história para cumprir os propósitos de Deus. O político procura se eleger, o que é diferente. “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?” (2 Co 6.14).
O diabo ofereceu a Jesus o poder sobre os governos, afirmando que este poder lhe pertencia (Lc 4.5-8). Jesus o expulsou de sua presença, dizendo: “Vai-te Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás”. Com esta resposta Jesus deixou claro que política é semelhante a religião. Se cresse no diabo daria a ele o voto de louvor. Os eleitores também votam quando creem nos candidatos. Muitos deles se tornam verdadeiros ídolos. A história está coalhada de crimes por inveja e traições políticas.
A política é tão sórdida e diabólica que Jesus expulsou Satanás; e os crentes a buscam.
Os dez mandamentos de Maquiavel para os políticos, já que ele é o autor da ciência política são:
1. Zelem apenas pelos seus próprios interesses.
2. Não honrem a mais ninguém, além de vocês mesmos.
3. Façam o mal, mas finja que faz o bem.
4. Cobicem e procurem obter tudo o que puderem.
5. Mostrem-se miseráveis.
6. Sejam duros e brutos.
7. Enganem o próximo toda vez que puderem.
8. Matem seus inimigos e, se for necessário, os seus amigos.
9. Usem da força, em vez da bondade ao tratarem com o próximo.
10. Pensem exclusivamente na guerra.
Com algumas exceções todos os reis gregos, depois de brilhante carreira foram perseguidos até a morte.
Política e finanças
Política é dinheiro circulando. É sedução, presentes, suborno, interesses no poder, tramas etc. É o capitalismo e a política, segundo o livro, Brasil Colônia de Banqueiros, de Gustavo Barroso (1924). Declara o autor que existe uma política que foge aos impositivos nacionais. Tivemos antigamente o imperialismo militar das nações mais fortes, que reduziam os países livres à condição de escravidão. Em seguida, tivemos o imperialismo econômico das grandes nações que conquistavam o mercado para seus produtos. Dentro desses germinou um imperialismo ainda maior, inimigo de todos os povos: O capitalismo. Ele não tem pátria; não tem sentimentos. É um monstro devorador.
Tendo-se tudo reduzido ao capital, este passou a atentar contra os princípios da civilização cristã, quais sejam, o princípio da família, o princípio da nação e o princípio da igreja. O capitalismo é o permanente proletarizador das massas. O capitalismo, na sua marcha avassaladora, penetra no organismo das nações a fim de aniquilá-lo. Começa, portanto, na escravização dos governos. Essa escravização, escraviza um povo; não manda exércitos, mas banqueiros; assumem as mais variadas atitudes para iludir o povo. (Não existe sistema político eficaz, quando é político).
A política exclui a religião. Num partido político unem-se elementos heterogêneos nas convicções religiosas e homogêneas na convicção política. A fidelidade ao partido anula a fidelidade religiosa. Dessa forma, o crente político nega a Cristo. Este fato está registrado na Bíblia, quando todos os anciãos vieram a Samuel, em Ramá, e pediram-lhe que constituíssem um rei que os julgasse. Deus falou a Samuel: “Não é a ti que eles rejeitam, mas a mim” (1 Sm 8.1-7). É abominável aos olhos de Deus que um crente honre um feiticeiro por causa da política, sendo que a Bíblia manda extirpá-los (Ex 22.18).
Partido político é aliança partidária. Como tratará Deus o cristão que diz ter aliança com Jesus e entra para um partido político fazendo aliança com idólatras, ateus, ladrões e corruptos? E, dentro de um regime democrático, quando pertence ao reino de Deus? Serve a Deus e a Mamom?



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