Que espírito nos move?

O mundo em que vivemos pende sempre para os extremos: As pessoas se inclinam para a teologia contemporânea e passam a negar o milagroso, o transcendental ou se atiram completamente no mundo místico. Os dois extremos são perigosos e se tornam terreno fértil para a operação da carne, do que é natural e de Satanás. Esquecem os teólogos que o mundo em que vivemos é dividido em terreal e espiritual. Mas, não existe uma linha geográfica clara entre os dois mundos e só podem notá-la ou detectá-la os que vivem em íntima comunhão com a Palavra de Deus e com o Espírito Santo de Deus.

Para entender como esses dois mundos são imperceptíveis faz-se necessário compreender que existem verdades posicionais e verdades práticas. Uma verdade posicional é aquela conquistada por Jesus Cristo na cruz a favor dos homens, e a verdade prática ou pragmática, como queiram, é a vida que se vive no dia-a-dia aqui na terra.

Por exemplo: Estamos assentados com Cristo “nas regiões celestiais” – verdade posicional – e ao mesmo tempo “assentados” aqui na terra – verdade prática. Siga esse raciocínio: Paulo abre a carta aos efésios falando que somos abençoados com “toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3). Depois ele fala que Cristo está assentado à direita do Pai “nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio…” (Ef 1.20-21).  Mais adiante Paulo afirma que estamos assentados nos lugares celestiais com Cristo (Ef 2.6). Então, o mundo espiritual em que vivemos é o mesmo mundo de Cristo; com ele, “acima” de tudo e de todos!

Outra verdade posicional é que “morremos e nossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus” (Cl 3.3). No entanto, no mundo natural parece que somos atingidos a toda hora pelos petardos cheios de explosivos enviados por Satanás. Esquecemo-nos que estamos ocultos em Cristo, em Deus! Mas, o que dizer do Salmo 91 e de tantos outros que falam em “esconderijo” do Altíssimo? Existe um local oculto em Cristo e, quando entendemos esta verdade posicional, alcançada na cruz por Cristo, o dia-a-dia será enfrentando com maior firmeza e segurança.

Mais uma verdade posicional: Fomos batizados em Cristo e com ele ressuscitados: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós em novidade de vida” (Rm 6.4). Quer dizer, então, que o ato do batismo é posicional, porque, afinal, se olharmos para nós mesmos descobriremos que não morremos e nem ressuscitamos; posicionalmente, aos olhos de Cristo, morremos e ressuscitamos com ele!

Antes, por natureza éramos filhos da ira (Ef 2.3); mas, posicionalmente fomos criados para sermos “feitura de Deus” (Ef 2.10).

A diferença entre os dois “mundos” pode ser comparada a uma casa de dois pisos: Quando se está no piso superior a visão é maior; quando se está no inferior a visão é retilínea a rés-do-chão. E Deus nos convida a subir para o andar de cima de onde se pode ter uma vista maior do que ele preparou para nós. Quanto mais alto subirmos, mais veremos! Essa verdade espiritual tem de ser experimentada por todo crente! Por todos os que pregam a palavra de Deus!

Os homens do passado “enxergavam” além de seu tempo. Abraão contemplou a cidade que tem fundamentos eternos, viu seu filho ressuscitado, enxergou os dias de Jesus (Jo 8.56) e viu coisas que ainda estão por se cumprir, coisas que nem imaginamos. Jacó profetizou o futuro de cada um de seus filhos; Moisés decidiu enfrentar a vergonha de Cristo porque anelava a glória futura. Balaão, na primeira fase de ministério profetizou coisas eternas. Os salmistas e os profetas viram os dias de Jesus, sua vida e seu sacrifício na cruz e sua glória eterna. Jesus enfrentou a morte porque antevia a glória celestial (Is 53. 10-11).

Paulo fala que, se já fomos ressuscitados com Cristo – verdade posicional – devemos buscar as coisas lá do alto, onde Cristo vive (Cl 3.1, 2). E ele tinha razão, porque Jesus falou aos discípulos que eles seriam revestidos do poder do alto (Lc 24.49). Isaías profetizou sobre o Espírito do alto: “Até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto…” (Is 32.15). É do alto que recebemos sabedoria: “A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento (Tg 3.17), enquanto a sabedoria da terra é animal e demoníaca (Tg 3.15).

Ora, para entender essa geografia espiritual há que se ter em mente que o mundo espiritual e o natural e ou diabólico estão presentes na mesma esfera; não é um lugar distante da terra, mas um ambiente espiritual, natural ou diabólico na esfera em que se vive aqui embaixo. Assim, em meu escritório posso estar em contato com o espiritual e o diabólico, dependendo de minha espiritualidade e de meu entendimento das coisas espirituais. Não existe distância entre esses mundos.

Essa dimensão de experimentar na vida diária a provisão espiritual feita na cruz; de participar das verdades posicionais exige de cada pessoa que redirecione sua forma de pensar. Você eu nos ocupamos sempre com as coisas da terra; vamos para a cama a noite pensando nas coisas da terra; acordamos de manhã pensando nas coisas daqui; passamos todo o dia com a cabeça nas coisas terreais e Deus nos convida a mudar nossa forma de pensar; a mudar a direção dos pensamentos. Veja quanta coisa perdemos; quanta verdade espiritual não é alcançada; quanta bênção não recebida tudo porque nos ocupamos demasiadamente das coisas terreais. É possível, sim, viver aqui trabalhando nas coisas da terra, ganhando dinheiro para o nosso sustento, trabalhando numa fábrica sem perder de vista a linha geográfica do que é espiritual.

Tome-se como exemplo Pedro, o apóstolo.  Num dado momento recebeu a revelação de quem era o Cristo e noutro já estava em outro espírito (Veja Mt 16.16-19 e 16.22). Depois de entender por revelação de Deus que Jesus era o Cristo, não muito tempo depois estava vivendo noutro espírito, a ponto de Jesus repreendê-lo: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mt 16.22). Depois de receber uma revelação, Pedro começou a pensar nas coisas terreais. Antes, recebeu revelação do Espírito, agora operava na esfera de Satanás.

Uma pessoa pode ser movida pelo Espírito de Deus ou pode ser movida por outro “espírito”. Pedro afirma que “homens santos, falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21), mas logo adiante fala que outros homens foram “movidos por avareza” (2 Pe 2.3).  Quer dizer, um obreiro pode começar bem, sendo movido pelo Espírito da parte de Deus e, ao longo do caminho se corromper e ser “movido pela avareza”, pelo espírito de engano; espírito de prostituição; espírito de ciúmes etc. Judas afirmou que havia obreiros naqueles dias “movidos de ganância” (Judas 1.11). Assim, temos pessoas que são movidas pelo Espírito, conforme Atos 21.5 e outros movidos de inveja, como em Atos 17.5.

Os discípulos exultaram de alegria quando Jesus os enviou a pregar, curar e expulsar demônios. Parece-nos que não atentaram para o mundo acima da cabeça deles, mas, Jesus lhes dá uma notícia alvissareira: “Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago” (Lc 10.18). Ainda que estivessem expulsando demônios, curando enfermos e pregando o evangelho do reino os discípulos precisaram ser conscientizados de que um mundo mais elevado estava sendo revolucionado naquele momento.

João e Tiago queriam trazer fogo do céu sobre um vilarejo de Samaria e Jesus lhes repreendeu, dizendo: “Vocês não sabem que espírito está movendo vocês”  (Lc 9.54-55 – tradução livre). Era outro espírito que os movia!

Diferentemente do velho Simeão, que, movido pelo Espírito de Deus foi ao templo, porque, na dimensão em que ele vivia recebera a promessa de que ainda veria o Messias antes de morrer (Lc 2.25-27). Simeão acelera o passo e chega ao templo no momento em que Jesus, o Messias era apresentado a Deus com quarenta dias de vida. Mas, alguém pode ir ao templo movido pelo espírito de ganância! A pergunta que deixo aqui é: Que espírito nos move? O Espírito que vem do alto, de Deus ou o espírito que vem do alto, de Satanás?

Assim, existem tantos exemplos nas Escrituras de pessoas que viviam concomitantemente esses dois mundos. Elias vivia essa transcendentalidade ao mesmo tempo que era medroso e fugia de uma rainha perversa. Eliseu tinha uma percepção espiritual que confundia o rei da Síria e deixou boquiaberto seu jovem auxiliar. Estudem a vida desses dois profetas e verão que tipo de vida experimentaram!

Para finalizar, no mundo espiritual trafegamos nesses dois mundos distintos: Entre principados e potestades do mal, conforme afirma Efésios 6.10-12 e entre principados e potestades do bem, conforme o texto de Colossenses 1.16. Compete a cada um de nós escolher em que mundo palmilhar e a que espírito obedecer.

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