A criação desabrochará num novo cântico a Deus.

“A música é a voz harmoniosa da criação; um eco do mundo invisível; uma nota de divina concórdia que o universo inteiro, um dia, está destinado a soar” (Mazzini)

Vimos anteriormente que a natureza é afetada pelo tipo de música que ouve. As plantinhas aqui de casa já confirmaram essa tese científica! O que os pesquisadores precisam entender também é que a natureza, obra das mãos de Deus não é apenas sensível à música; as obras das mãos de Deus em toda a terra também sabem cantar a sua própria música, e têm sua própria melodia de louvor e adoração. E aqui está o real sentido da sensibilidade da natureza: Quem é sensível à música é porque também tem a capacidade de musicar. Vejamos por este ângulo: Um músico é sensível à música que ouve por causa de sua capacidade musical. E é exatamente isto o que acontece com a natureza, a criação, obra de Deus. Ela se ressente ou se alegra da música que ouve por causa da música inerente em sua estrutura, em sua natureza! 

A criação do mundo deve ter sido ao som de muita melodia. É isto o que se infere não apenas de algumas referências bíblicas, mas da história de alguns povos. Exemplo do que quero dizer encontra-se na tradição dos maias-quichuas, cuja história registra que os deuses obedecem às ordens do Criador para fazerem a terra ao som da música. À luz da ciência, se a música decisivamente influi no crescimento das plantas e nas cores, então houve uma explosão de som e melodia quando Deus disse: “Haja luz”. Deus não fez o universo todo em silêncio, ao contrário, ele o fez falando. A voz de Deus foi ouvida no caos, no nada, dando forma a cada coisa formada. Ele dizia, “haja!” e acontecia! Depois, dizia para si mesmo: Está bem feito! Na tradição oral e escrita dos chineses menciona-se a existência dos Tons Cósmicos, da música que deu origem a toda vida. Para os chineses o mundo foi criado ao som de música! 1

Sem qualquer sombra de dúvida podemos afirmar que Samuel instruiu a Davi, o rei musicista de Israel sobre a importância da música na vida de um povo. Davi, seguindo a orientação de Samuel que havia estabelecido as escolas de profetas, onde a música e os louvores eram entoados a Deus, instituiu por todas as gerações a música na adoração ao Deus de Israel, assunto que também abordaremos.  Davi “viu” o que acontecia no universo divino a ponto de exclamar: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite”. Davi, a seguir, diz que não se ouve o que os céus proclamam nem o que o firmamento anuncia, no entanto, diz ele, “por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras até aos confins do mundo” (Sl 19.1-4). O som dos céus, diz Davi, não pode ser ouvido por muitos de nós, mas é audível em toda a terra.

Acompanhe-nos em alguns textos bíblicos e perceberá o quanto a criação louva ao Criador. Quando o Senhor diz no livro do profeta Isaías “Eis que faço cousa nova, que está saindo à luz”, percebe-se, implícita em suas palavras que o novo de Deus vem acompanhado de sons musicais, pois nos versículos seguintes ele diz: “Os animais do campo me glorificarão”, e geralmente a glorificação vem acompanhada de música. “Porque porei águas no deserto, e rios no ermo, para dar de beber ao meu povo, ao meu escolhido, ao povo que formei para mim, para celebrar o meu louvor” (Is 43.19-21).  Por causa do novo que Deus cria, tanto os animais como os homens rendem-se em adoração e louvor diante de Deus. Pelo texto de Isaías, o louvor faz parte do novo de Deus!

Sempre que Isaías fala de salvação e redenção, o texto vem permeado de louvores e exaltação a Deus. Poderia ser apenas uma alegoria, mas expressões como: “Regozijai-vos, ó céus, porque o Senhor fez isto; exultai, vós, ó profundezas da terra; retumbai com júbilo, vós, montes, vós, bosques e todas as suas árvores, porque o Senhor remiu a Jacó, e se glorificou em Israel” não são apenas alegorias! A terra e toda a criação de Deus podem explodir numa canção de júbilo e louvor àquele que a tudo criou!

O texto de Isaías 49 conclama a própria natureza a irromper numa celebração de júbilo diante de Deus: “Cantai, ó céus, alegra-te, ó terra, e, vós, montes, rompei em cânticos, porque o Senhor consolou  o seu povo e dos seus aflitos se compadece” (v 13). Com a comprovação científica de que as plantas e os animais são susceptíveis à influência da música, não resta a menor dúvida de que um texto como este passa do campo da alegoria para o da realidade.

Podemos perceber nestes textos que há uma íntima relação entre o homem e a natureza. O homem no pecado leva a natureza a gemer, “porque sabemos que toda a criação a um só tempo geme e suporta angústias até agora” (Rm 8.22). Entretanto, o homem redimido faz a natureza explodir numa melodia de alegria e júbilo diante de Deus. A ligação é simples: O pecado traz miséria e dor; a redenção do homem redime a própria natureza. Os textos bíblicos que falam de música e alegria estão ligados à redenção do homem e da natureza. 

Se a natureza, no dizer de Paulo, “geme e suporta angústias até agora” certamente  desabrochará num cântico de louvor quando os filhos de Deus se manifestarem. Por que a criação está com grandes expectativas aguardando a revelação dos filhos de Deus? Porque ela também será redimida, e, como os remidos, haverá de cantar uma explosão de melodias a Deus, o Criador! A redenção do povo de Deus afeta diretamente a natureza, e no dizer de Isaías, “Saireis com alegria, e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas” (Is 55.12).

Quando é que um monte irrompe em júbilos e as árvores do campo batem palmas? Quando a terra for redimida. As chuvas e o calor vêm no tempo certo, as águas deixam de ser poluídas, a ecologia é respeitada. Isto só acontecerá na redenção total do homem! Por isso, quando a terra for restaurada, o mundo se encherá de uma nova melodia e cores! Vê-se aqui uma perfeita integração entre o homem e a natureza: “Saireis com alegria” refere-se ao homem redimido e “os montes romperão em cânticos”  na terra redimida! Imagine como será o reino milenar de Cristo, quando homem e natureza viverem em completa e doce harmonia!

Porque hoje os bosques estão poluídos, as praias cheias de lixo, o mar cheira a podre… Em muitas cidades.

E que dizer das obras de Deus fluindo em cânticos de adoração e louvor? Nas Escrituras temos o Salmo 103 como uma obra singular de louvor, ações de graça e adoração. Neste salmo todos são convocados à adoração: anjos e ministros e “todas as obras, em todos os lugares do seu domínio” (v 22). Convém destacar que o autor do Salmo, consciente e propositadamente separa os anjos dos ministros e estes das obras das mãos de Deus. Assim, implícito no texto, Davi conclama a natureza a louvar a Deus.

Que a criação, obra das mãos de Deus rompe em cânticos e louvores não era algo novo para Davi. “Bendizei ao Senhor, vós, todas as suas obras, em todos os lugares de seu domínio”. Campbell Morgan fala deste Salmo como sendo uma das mais belas sinfonias de ações de graça e adoração. Depois de mostrar os movimentos do cântico como o de uma orquestra, ele diz: “O cântico nos ensina, além de seus métodos e movimentos que a adoração individual está ligada à esfera (do todo) e em harmonia com o infinito. Sempre que sinceramente adoramos a Deus entramos em harmonia com toda a criação” 2

Há um cântico, uma sinfonia de música, louvores e adoração cantada pelas obras de Deus em todos os domínios de Deus da mesma maneira em há um gemido em grande parte da natureza, no dizer de Paulo, esperando a redenção dos filhos de Deus. Imagino que sempre que a natureza é ofendida, atacada e violentada ela geme diante do seu Criador, e irrompe em louvores quando é redimida sobre a terra.

Em Apocalipse 4.11 Deus é adorado no cântico dos vinte e quatro anciãos como aquele que é digno “de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as cousas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”. Observe que Deus é adorado por sua obra criadora. No capítulo seguinte, todas as obras de Deus se apresentam diante dele com cânticos de adoração. Por causa da obra redentora do Cordeiro, juntam-se à voz dos querubins, dos anciãos e dos milhares e milhares de anjos a voz de “toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar”. Que criaturas são essas mencionadas neste capítulo? Pessoas? São as obras das mãos de Deus, proclamando: “Àquele que está sentado no trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e domínio pelos séculos dos séculos” (v 13).

A natureza, obra das mãos de Deus tem um cântico contínuo de louvor a Deus. Nós é que não percebemos a música que ela toca para Deus. Veja bem. Não somente a natureza é afetada pela música que tocamos mas, a própria natureza entoa a Deus cânticos de adoração. Davi quando convoca o povo a cantar um cântico novo, diz: “Alegrem-se os céus, e a terra exulte; ruja o mar e a sua plenitude. Folgue o campo e tudo o que nele há; regozijem-se todas as árvores do bosque” (Sl 96.11,12). Num outro salmo diz Davi: “Ruja o mar e a sua plenitude.. os rios batam palmas, e juntos cantem de júbilo os montes, na presença do Senhor” (Sl 98.7-9).

Davi não cabia em si de contentamento e via que todas as suas expressões de louvor e adoração não diziam tudo o que ele queria expressar, por isso exclama: “Todas as tuas obras te renderão graças, Senhor” (Sl 145.10). E para isto ele dedicou todo um salmo em que convoca os homens, os anjos e as obras de Deus. Este Salmo precisa estar aqui na íntegra pois ele diz muito mais do que poderíamos expressar:

 Aleluia! Louvai ao Senhor do alto dos céus, louvai-o nas alturas. Louvai-o todos os seus anjos; louvai-o todas as suas legiões celestes. louvai-o,  sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes. Louvai-o, céu dos céus, e as águas que estão acima do firmamento.

Louvem o nome do Senhor, pois mandou ele, e foram criados. E os estabeleceu para todo sempre: fixou-lhes uma ordem que não passará.

Louvai ao Senhor da terra, monstros marinhos e abismos todos; fogo e saraiva, neve e vapor, e ventos procelosos que lhe executam a palavra; montes e todos os outeiros, árvores frutíferas e todos os cedros; feras e gados, répteis e voláteis; reis da terra e todos os povos, príncipes e todos os juízes da terra; rapazes e donzelas, velhos e crianças, louvem o nome do Senhor, porque só o seu nome é excelso: a sua majestade é acima da terra e do céu (Sl 148.1-13)

A redenção do homem e o novo cântico a Deus.

Ora, é compreensível que a música afete o comportamento do ser humano levando-o a tomar atitudes as mais diversas. Ele pode rir ou chorar; matar ou morrer; dançar ou se prostrar, etc. Assim como o mundo é influenciado e alterado pela música que ouve e toca, o homem também é influenciado e tocado pelo novo cântico, pela música de Deus. O homem redimido não é passivo, ele age e contamina positivamente com sua vida de louvor, com sua música de adoração, todo aquele que estiver seu redor. Da mesma forma como alguns cantores contaminam o mundo com a música das trevas contribuindo para a degradação moral do homem, a música da nova criação, do novo homem contribui para o surgimento de uma nova sociedade.

É aqui que entra o novo cântico da Igreja. Não precisamos, portanto, buscar no mundo a inspiração para novos hinos, temos o canal de comunicação com Deus donde procede a nova música, a nova hinologia da Igreja. Temos que apresentar ao mundo a cultura do reino de Deus e isto inclui também a sua música.

É a Igreja que deve escrever os cânticos que o mundo vai ouvir e cantar e não o inverso. Durante muitos anos a Igreja influenciou a sociedade na época do natal falando da vinda de Jesus e da redenção do homem, mas cedeu às tentações das festas, presentes, comércio e comida e os cânticos já não têm o mesmo efeito sobre o mundo. As músicas com letras que falam de “Papai-Noel” ocuparam o lugar de Jesus. O tradicional “Noite Feliz” de Joseph Mohr e Franz Grubber escrito com tanta ternura e devoção serve agora de estímulo à cobiça e ao mercantilismo da sociedade; vem perdendo, por culpa da Igreja, o seu lugar na sociedade, enquanto as músicas com “Papai-Noel” são amplamente divulgadas. No entanto, a motivação dos cânticos natalinos sempre foi a Pessoa de Cristo e não Papai Noel ou divindades adoradas através da história. Nota

Exemplo positivo do que estou afirmando é a música do Régis Danese sobre Zaqueu que é cantada por crentes e descrentes. É disto que falo quando a música da igreja deve influenciar o comportamento da sociedade.

Precisamos considerar, especialmente aquele segmento de evangélicos que não comemoram o Natal, e eles têm lá suas razões, que os cânticos que falam do nascimento de Cristo nada tem a ver com a data de 25 de dezembro, e sim, com o kerigma, a proclamação do evangelho, da encarnação de Cristo, da redenção da humanidade. Creio que Carlos Wesley quando escreveu “Eis dos anjos a harmonia, Cantam glória ao novo Rei” (e a música é de Félix Mendelssohn – Cantor Cristão, 27) tinha como único objetivo conclamar anjos, céus, homens e mulheres a exaltar o “Cristo, Redentor”.

O novo homem, a nova criação, tem que afetar a sociedade ao seu redor. Por que as músicas de natal perderam o seu sentido? Porque a Igreja trancou-se dentro de quatro paredes. Ela precisa resgatar a mensagem do nascimento de Cristo saindo às ruas em cantadas de adoração e proclamação do Nome de Jesus Cristo. Ela precisa ocupar as praças das cidades com os corais e conjuntos de suas congregações. Os corredores dos hospitais, as ruas da cidade e o próprio comércio precisam ouvir o som da nova criação no dia do Natal. Todos sabemos que o Natal não é no dia 25 de dezembro, que a festa foi introduzida ao longo da história, que há elementos pagãos dentro dela, etc. Mas existe uma época mais apropriada para se cantar sobre a vinda do Filho de Deus do que esta data?

O que é o cântico da nova criação?

O cântico da nova criação surgiu pela vez primeira no dia de Pentecostes quando os cento e vinte discípulos reunidos em oração no cenáculo foram despertados pelo “som, como de um vento impetuoso, (que) encheu toda a casa onde estavam assentados” (At 2.2). Sempre é bom observar que não foi um vento que encheu a casa mas o som como de um vento impetuoso! A palavra grega echo é usada neste texto para indicar que o som não é seco, mas retumbante, e o texto explica que “encheu toda a casa”. O vento passa, o echo permanece. Não era um som que retine, como quando se toca um sininho, mas um som que enche, que repercute em todo o ambiente.

O som do Espírito ouvido pela vez primeira no dia de pentecostes precisa ser ouvido continuamente na vida da Igreja. O som indicava a presença do Espírito na vida dos discípulos e esse mesmo som continua a soprar sobre a nova criação de Deus, o homem redimido. O que aconteceu a seguir foi uma explosão de vida, de entusiasmo, de prazer e de alegria. As línguas foram uma destas manifestações que encheram de som toda Jerusalém.   “Quando, pois, se fez ouvir aquela voz”, diz o texto, indicando que o som produzido pelos cento e vinte foi ouvido em toda a cidade! É a mesma música da criação quando Deus falou e a vida surgiu! Agora, a voz de Deus ecoou por todo o cenáculo numa explosão de música e línguas.

Os idiomas, por si mesmo são cantados, haja vista a variedade de entonação nas frases que as pessoas falam nas diferentes regiões do Brasil. O gaúcho diz que o catarinense fala cantado; os nordestinos dizem que os do norte é que cantam e esses dizem que os do oeste cantam, quando falam. Na realidade cada região tem sua entonação musical nas palavras. Os idiomas do mundo, quando comparados uns aos outros, soam como música. Creio que os vários idiomas falados no dia de Pentecostes jorravam como uma cascata, soavam como orquestra de tons diversos, com entonações variadas, semelhantes a uma música. Possivelmente! O que aconteceu no dia de Pentecostes é bem diferente do alarido de guerra mencionado no Antigo Testamento ou do ruído provocado por uma turba, uma multidão enraivecida, como aconteceu em Éfeso. É inquestionável o fato de que um novo cântico começou a ser cantado a partir desse dia, pois com o surgimento da Igreja, um novo povo começa a se reunir em diferentes lugares cantando todos num mesmo tom!

É o som do Espírito Santo levado à Etiópia nos lábios do novo homem, um eunuco da rainha Candace que depois de batizado e de se tornar uma nova criatura em Cristo, “foi seguindo o seu caminho, cheio de júbilo” (At 8.39). Sem dúvida o júbilo que inundou a vida do eunuco, extravasou-se pela Etiópia em novos cânticos de louvores a Deus! O Eunuco deve ter fechado o livro que estava lendo, seguindo seu caminho cantando louvores a Deus!

Foi o novo som, o echo do novo homem em Cristo ouvido por ocasião da descida do Espírito Santo na casa de Cornélio. Ali, Pedro e os que com ele estavam “os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus” (At 10.46). A chave está aqui: Engrandeciam a Deus! Um som de júbilo e alegria rompeu entre os gentios! É isto o que os apóstolos perceberam no concílio de Jerusalém: O tabernáculo caído de Davi estava sendo reerguido! O tabernáculo no Antigo Testamento era o lugar da habitação de Deus onde os sacerdotes nos dias de Davi se apresentavam em turnos de louvor e adoração. Este novo tabernáculo é constituído de judeus e gentios cheios da presença do Espírito!

É possível expressar louvores e cânticos a Deus em meio a lutas e tribulações? É isto o que ocorre com o novo homem criado em Deus. Ele tem a capacidade de suportar os açoites, de agüentar a dureza das algemas que lhe prendem as pernas e as mãos. O coração, entretanto, está alegre como aconteceu com Paulo e Silas na fétida prisão de Tessalônica. Em meio a tanta tribulação, depois de levar uma tremenda surra o novo homem podia cantar e glorificar a Deus. À meia noite a prisão ficou cheia do novo som, do novo cântico gerado pelo Espírito de Deus no dia de Pentecostes. Pedro diz: “Nisto exultais… embora sejais contristados por várias provações…; a quem não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória” (1 Pe 1.6,8). Que exultação e alegria são estas? É o cântico de alegria, o novo som de Deus que nos permite passar por tribulações antevendo a glória de Deus!

Creio que foi esta visão da glória futura cercada de louvor e alegria que deu forças aos mártires na hora de entregarem suas vidas por amor a Cristo!

O novo homem, a nova criação de Deus em Cristo, viu-se de repente inspirado a louvar e a adorar a Deus de forma mais dinâmica. E era tanta a espontaneidade e alegria da nova nação de Deus que Paulo teve que colocar um pouco de ordem na reunião dos remidos. “Que fazer, pois, irmãos?”, pergunta Paulo. “Quando vos reunis, um tem salmo….”.

É o som da nova criação ecoando pela terra! O povo de Deus, a nova criação em Cristo, sempre que se reúne não consegue conter o poder do novo cântico, do som do Espírito e Paulo atiça a fogueira da comunhão dizendo: “Quando vocês se reunirem, falem salmos uns com os outros, recitem poesias, cantem e louvem a Deus de coração. Deixem que os hinos e os cânticos espirituais fluam normalmente de suas vidas, tudo permeado com ações de graças a Deus” (Ef 5.19,20 tradução livre). É por isso que os cultos têm tantos cânticos, que tantos querem cantar, que vários querem expressar sua própria música! O novo cântico de Deus surgido no Pentecostes ainda ecoa (echo) por toda a terra!

Quando uma cidade recebe o Evangelho transformador de Jesus Cristo e uma nova nação de redimidos é formada, este novo som do Espírito torna-se a nota dominante nas reuniões, em conversas, na comunhão e nas ruas da cidade. Foi isto o que aconteceu em Samaria quando Filipe pregou ali a palavra de Deus: “E houve grande alegria naquela cidade” (At 8.8). Que alegria é esta? É o novo som de Deus chegando à cidade! As mulheres buscavam água nas fontes cantando com os cântaros na cabeça; a lenha era rachada para o fogo com expressões de gratidão; o cântico das colheitas soou mais forte; as crianças passaram a cantar de alegria, porque “houve grande alegria naquela cidade”.

Recordo-me que quatro décadas atrás quando nossa cidade foi impactada por um grande mover de evangelização, ouviam-se pessoas nas ruas e pela vizinhança cantando a música das cruzadas. O som da nova criação encheu a cidade e por toda a parte, inconscientemente as pessoas assobiavam ou cantarolavam as músicas da Igreja! E como precisamos deste novo som de Deus novamente em nossas cidades! O cântico, “Cristo é a resposta ao pecador” era ouvido nos bondes, nas praças e nas ruas da cidade.

O que Paulo queria dizer ao falar do corpo como templo do Espírito Santo? Seria este o templo de louvor da nova criatura sobre o qual Paulo fala em 1 Coríntios? “… o vosso corpo é o santuário do Espírito Santo…. agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1 Co 6.19, 20). Paulo lembra aos corintos a figura do templo ou do santuário onde se ofereciam sacrifícios a Deus, dizendo: “glorifiquem a Deus em seus corpos”. Poderíamos dizer assim: Deixem que do santuário de vocês flua num cântico de louvor a Deus! Usando a mesma figura de templo e sacrifícios o autor do livro de Hebreus, diz: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb 13.15).

 Na Harpa Cristã um cântico expressa o verdadeiro sentido do que quero dizer: “Do meu coração vibram as cordas, afinadas para o Mestre louvar”. O autor expressa o que todos gostaríamos de dizer: “Também fomos no mundo afinados, mas não era agradável o som; mas no Gólgota já transformados, temos nova harmonia e tom”. 3 A nova criação, pois, trouxe à terra desde o Pentecostes um novo cântico, uma nova música, um hino de louvor ao nosso Deus! É o que preconiza Davi no Salmo 40. Depois de viver uma vida de pecado, conhecer as profundezas das trevas, o homem redimido, pés firmados na Rocha, pode dizer: “E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus” (Sl 40.3). Por isso quando cantamos, “Grandioso és Tu”, deixamos brotar um hino de louvor a Deus!

Creio que a Igreja, esta nova criação de Deus possui o maior acervo musical do mundo. A Igreja tem a mais vasta hinologia encontrada em qualquer cultura. Em todos os continentes ouve-se a todo instante o som do Espírito rompendo os céus em hinos e músicas a Deus. Que outro povo ou cultura tem tanta musicalidade, talento, e criatividade musical como o povo de Deus? Este é o resultado do som do Espírito que soprou sobre os discípulos no Pentecostes e que sopra sobre a nova criação em todos os cantos do universo!

Os templos com seus sinos repicando, com seus corais cantando, com a música entoada todos os dias retratam o que quero dizer: A partir do dia de Pentecostes um novo som encheu a terra. Foi muito feliz a pessoa que escreveu o cântico, “Há sobre a terra um novo som, uma voz nova a soar; uma perfeita melodia de louvor; anjos a cantar, com poder a proclamar…”.

Alguns dos nossos poetas na ânsia de dizer o que sentem, sem encontrar palavras, romperam em cânticos como, “Ah! Se tivesse mil vozes, para o Brasil encher….”, como a dizer: Brasil, tenho tanto para cantar e quero encher toda a nação com a música de Deus! Urge, portanto, que a Igreja encha o Brasil da música divina antes que as músicas geradas nos cantões do inferno ocupem, como já está fazendo, todos os cantos do nosso Brasil.


Nota Joseph Mohr, tinha 26 anos quando escreveu “Noite de Paz”. Seu amigo organista, Franz Gruber colocou os acordes nesta linda poesia. Gruber disse a Joseph Mohr: “Este hino canta por si mesmo. As suas palavras tornam-se numa linda melodia. É impossível ouvi-las sem imediatamente cantá-las”. Naquela noite, com o órgão da congregação estragado, os dois cantaram o hino em duas vozes dedilhado num antigo violão. Somente a partir de 1838 o hino começou a ser divulgado por toda a Europa. Fonte: ‘Se os Hinos Falassem” , Bill Ichter , Vol. III, JUERP, 1984, pgs. 24-27

 


1 O Poder Oculto da Música, David Tame, Cultrix, pg 43

2 Campbell Morgan, em Great Chapters of the Bible (Os Grandes Capítulos da Bíblia), pg. 82

3 Hino 342 da Harpa Cristã

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