Sou saudosista, sim!

Pois meus amigos sou um velho Dino (dinossauro) saudosista! Hoje comecei a ter saudades de algumas coisas que perdemos ao longo dos anos.

1. Tenho saudades de meu tempo de jovem quando saía de casa sem me preocupar em ser assaltado, roubado ou não.

2. Fechávamos a casa com uma tramela que era aberta depois por uma cordinha puxada pelo lado de fora, ou deixávamos a chave debaixo de um vaso de folhagem no jardim.

3. A vizinhança era legal. Uns cuidavam a casa dos outros.

4. Saudades da casa sem cercas e grades, apenas uma cerca de madeira para impedir os animais de entrarem e comerem as plantinhas do jardim. Hoje a casa em que resido tem grades de ferro, cerca elétrica, grades em cada abertura, alarmes e monitoramento eletrônico. E, mesmo assim, sinto-me inseguro porque, mal saio da garagem com o carro e alguém encosta um cano e me assalta!

5. Tenho saudade sim, de voltar a andar à noite, sob a brisa do verão, iluminado pela lua cheia a cantar cânticos de felicidade sem medo de ser assaltado.

6. Saudades do tempo em que ficávamos sentados à tardinha na calçada, vendo as crianças correr rua afora enquanto tomávamos chimarrão e deixávamos a amizade correr solta. Hoje se desconfia dos vizinhos. Do homem que sobe pela rua; do adolescente suspeito.

7. Saudades do tempo em que saíamos da vigília da igreja as três horas da manhã. Já não circulavam bondes ou ônibus àquela hora. Seguíamos a pé pra casa, felizes, alegres e não éramos assaltados.

8. Saudades do meu tempo de liberdade quando não havia uma mídia organizada tentando fazer-nos engolir este ou aquele candidato, acreditar nisso ou naquilo. Éramos livres e não sabíamos.

9. Saudades da simplicidade da igreja. Dos irmãos. Das amizades. Dos almoços de domingo. Dos cultos ao ar-livre. Dos hinos de Edgar Martins, do Feliciano Amaral, do Luiz de Carvalho e do João Simon – este último entoando canções com ritmos bem brasileiros. Saudades das igrejas em que o som era agradável, não o som altíssimo de hoje; dos cânticos entoados por instrumentos acústicos.

10. Saudade de subir os morros da cidade, sem correr perigo, feliz em colher ervas medicinais, comer pitangas e goiabas sem perigo de vida. Saudades e mais saudades.

11. Saudade da civilização que se foi. Voltamos à idade média em que os cidadãos precisam fechar a cidade com muros, erguer torres de observação e esconder-se do inimigo iminente.

12. Saudades do tempo da boa política e dos homens honestos. Hoje ficamos apavorados quando o horário político é mostrado na tevê.

13. Só não sinto saudade do canto dos sabiás, que se adaptaram às nossas cidades e se aninham no pé do laranja do quintal. Nem dos pica-paus que teimam em picar os postes de luz e as árvores das praças; das pombas que sobrevoam o telhado e dos pássaros, que, lá do alto todas as tardes voam para dormir na várzea junto ao rio. Eles são nossa alegria.

14. Não sinto saudades da velha máquina de escrever, nem das lamparinas e do telefone em que se solicitava à telefonista uma ligação que se completaria dali a uma hora. Neste sentido, a vida melhorou.

Mas, gostaria que meus netos experimentassem o que é viver livre, solto, porque a vida que eles levam assemelha-se à vida de um animalzinho preso na gaiola!

O resto é nostalgia!

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