Doação de órgãos – A igreja evangélica já se posicionou?

Vários de meus leitores pedem insistentemente que eu escreva sobre este tão contraditório tema, mostrando a base bíblica, espiritual e científica sobre se é lícito a um cristão, ao morrer, permitir a doação de seus órgãos para serem implantados noutra pessoa.

A igreja precisa se posicionar sobre vários temas modernos que incluem adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo; aborto; fecundação in vitro, cremação e doação de órgãos. São questões importantes que pedem um posicionamento teológico.

É necessário, pois, recorrer às escrituras para entender este tema, pois esta pode nos fornecer alguma pista, no entanto, não se pode recorrer a autores de livros do passado, porque a questão de doação e transplante de órgãos teve início no dia 3 de dezembro de 1967 quando o cirurgião sul-africano Christiaan Barnard fez o primeiro transplante de coração do mundo. O transplantado durou apenas 18 dias.

A pista que nos permite discutir sobre doação de órgãos está na declaração de Deus em Gênesis 3.19: “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás”. Apesar da tradição bíblica valorizar o sepultamento dos mortos tendo em vista a esperança da ressurreição, entendemos hoje que o que ressuscita não é aquele corpo que foi posto na terra, mas o corpo espiritual. A figura de linguagem do Apocalipse é clara: “Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras” (Ap 20.13).

Ora, quer estejam enterrados em sepulturas antigas ou sepultados no fundo do mar, os ossos se decompõem e se tornam pó, literalmente pó! O corpo de Abraão já virou pó! O corpo de Davi já virou pó, por isso os egípcios desenvolveram a arte de embalsamar um corpo para que este ficasse preservado na nova morada. As pessoas sepultadas centenas de anos atrás viraram pó! E que dizer das pessoas queimadas na fogueira por sua fé, cujos ossos viraram cinzas?

Paulo tratou deste tema com clareza na epístola aos coríntios afirmando que a ressurreição se dá no corpo espiritual.. Ele responde à pergunta: “Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm?”. Ora, diz Paulo, para nascer é preciso morrer, e “quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente. Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu corpo apropriado. Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual” (1 Co 15.35-44).

O que Paulo quer dizer com isto? Ele está afirmando que o corpo é como um grão que precisa morrer na terra para poder ressuscitar. À semelhança de uma semente que morre para dar lugar a uma nova planta, assim, cada um de nós, na ressurreição dos mortos será conhecido pela característica física, pela aparência que tivemos na terra, do contrário seríamos todos robôs! Uma pessoa amputada, terá os membros de volta, porque sua semente inclui braços e pernas. Um desdentando ressuscitará com seus dentes – imagine um reino de desdentados!

Um grão de milho quando brota da terra não tem mais a aparência de uma semente, mas de um pé de milho; uma baga de fruta morre e dá lugar a uma nova árvore. Da mesma forma quanto ao nosso corpo: Ele vira pó, mas a essência, o corpo espiritual continua. A ressurreição do corpo se dá pelo DNA espiritual que Deus deixou em cada um de nós.

Portanto, mirando-se a partir deste ponto de vista, a cremação ou o sepultamento é a mesma coisa. A cremação faz o corpo virar pó mais rapidamente!

Ora, levando-se em conta que a ressurreição dos mortos não é, necessariamente os mesmos ossos sepultados – porque a terra ou o fogo os corroeu e os fez desaparecer – assim também em relação aos órgãos do corpo, como córneas, fígado, coração, rins e outras partes que podem servir para prolongar a vida de outras pessoas.

Sempre me perguntam: Mas, e o coração transplantado que bate no corpo de outra pessoa, a quem pertence na ressurreição dos mortos? Ora, o coração ou quaisquer outros órgãos são apenas pedaços de carne; o que vale mesmo é o DNA espiritual de cada pessoa.

Assim, a doação de órgãos apenas ajuda a prolongar a vida de outra pessoa, dando-lhe até mesmo a chance de salvação e de remissão de pecados. Não é também verdade que Deus se doou ao homem entregando uma parte dele que é seu próprio Filho?

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