Uma Igreja acometida de AVC

Um dos sintomas nas pessoas que sofrem um AVC (acidente vascular cerebral) é que no processo de cura a mente passa a recordar as coisas antigas esquecendo-se dos fatos recentes. Pois este é o estado de algumas denominações brasileiras: Estão velhas, com estruturas de governo feudais, como aquelas cidadelas antigas cercadas de muros e numa zona de conforto. Os velhos, alguns decrépitos não largam de seu posto e dele só saem quando a morte os afaga repentinamente.
Eu estava meditando sobre isto enquanto lia a história do começo das grandes denominações. A maioria delas foi iniciada por jovens que ardiam com a chama missionária. Saíram de seus países, vieram para o Brasil e aqui outros jovens levaram adiante a obra da igreja nacional. Estava lendo sobre o começo do avivamento da rua Azuza e a rápida expansão do movimento pentecostal para Chicago e para toda a Escandinávia. Percebi que os homens que vieram para o Brasil, como Louis Francescon, Daniel Berg e Gunnar Vingren eram ainda bem jovens (Apenas que as fotos que deles se têm são de muitos anos depois).
Esses três jovens pentecostais receberam imposição de mãos do pastor Durhan na Igreja Batista dos Irmãos em Chicago para sua missão no Brasil. Como você acha que a obra pentecostal se expandiu rapidamente pelo território nacional? Porque os missionários eram jovens, cheios de sonhos e de energia. E agora, a igreja que eles fundaram no Brasil é vigiada atentamente por idosos que sofrem de AVC espiritual e não aceitam qualquer coisa que não se alinhe aos anos da década de 1910-1920. E não me refiro apenas aos dois grupos surgidos do trabalho desses três missionários a Congregação Cristã do Brasil e as Assembleias de Deus.
A Igreja pentecostal brasileira não soube se manter jovem e está enferma. E, quem escreve aqui não é um jovenzinho de 20 anos sonhador, mas um homem que faz mais de cinqüenta anos exerce o ministério do ensino da Palavra de Deus. Com Quase setenta anos de idade vejo com tristeza uma igreja que não se adaptou aos novos tempos insistindo em manter uma liturgia européia que bem serviu as gerações passadas, mas que em nada contribui para as novas gerações.
Por apegar-se à tradição a velha geração de pastores usa de seu tesourão para cortar o embalo de jovens que sonham com mudanças na igreja, e, por isso, desde 1970 houve um êxodo saído da cepa das principais denominações formando Comunidades Cristãs, jovens que foram dispensados, agora são pastores de Igrejas Batistas, Pentecostais de outros segmentos etc. porque lhes foram barradas as oportunidades ministeriais. Indiscutivelmente aqueles que eram jovens na década de setenta, hoje cobertos de cãs não procedem segundo seus antigos líderes e suas igrejas se expandiram Brasil a fora.
As velhas denominações pentecostais estão sofrendo de AVC. Vejo isto quando assisto alguns cultos e ouço os mesmos cânticos, entoados do mesmo jeito de setenta anos atrás; quando percebo que em algumas denominações as orações repetitivas começam e terminam no mesmo estilo de uma ladainha tão criticada nos outros, mas que agora é parte da igreja AVC; quando noto que mal entram na adolescência os jovens filhos de pastores ou se desviam ou passam a freqüentar uma igreja mais dinâmica abandonando aquela que seus pais pastoreiam. Percebo o AVC espiritual quando espiritualidade é confundida com cultura e vice-versa.
Na década dos anos cinqüentas e sessentas homens e mulheres vestiam suas melhores roupas – e falo de não crentes – para passear no centro da cidade e nas praças de terno e gravata e, para nós era comum passear as três da tarde, de terno e gravata, evangelizando. A vestimenta mudou, os tempos mudaram, mas a igreja e seu jeito de ser continua como nas décadas passadas sob o sufoco e suor de colarinhos engomados e ternos caros.
E se vestem de ternos caros os pastores, e suas esposas com roupas de grife desde que mantenham o coque enrolado sobre a cabeça e a aparência de santidade. Vistam um enfermo que sofreu um AVC e parecerá lindo, mas, apenas se lembrará dos velhos tempos que não voltam mais. Paralisado parcial ou totalmente o enfermo parecerá vivo, mas está velho e inoperante.
E, assim, muitas igrejas estão velhas e decrépitas, sofrendo dos males que os anos se encarregaram de trazer sobre elas. Investir nos jovens e dar-lhes a oportunidade de trabalho, entendendo-os e os monitorando é a solução, mas os que estão paralisados de AVC não querem. Morrem e com eles suas igrejas.
Deus quer levantar uma nova geração, mais comprometida e dinâmica para que seu reino venha sobre a terra. E não contará com aqueles que estão com AVC, mas com pessoas jovens e de mente jovem que suportem o ministério e todo desgaste que ele exige.
Deus os abençoe.

2 thoughts on “Uma Igreja acometida de AVC

  1. Paz Pastor, gostaria de obter seus livros sobre batalha espiritual, mas o link da loja virtual não funciona. Poderia me ajudar a encontrar seu material, por favor!

    Obrigado.

    Pr. Junior

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