“Mas a cidade de Susã estava perplexa” (Ester 3.15).

Salomão escreveu que há tempo para todas as coisas debaixo do céu, inclusive, tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria (Ec 3.1-8). Pois hoje estava meditando sobre o estado espiritual da igreja brasileira e me dei conta de que não sei em que tempo vivemos. Se em tempo de choro ou de alegria.

É interessante que, examinando as décadas de ministério e refletindo sobre a vida da igreja brasileira percebi que houve tempos de guerra e tempos de paz. No final da década de 80-90 a igreja celebrava a Deus com cânticos de guerra, declarando a vitória de Cristo sobre seus inimigos; adorava a Deus com cânticos de guerra, exaltando o Senhor Todo-Poderoso acima de todos os deuses etc. Era tempo de cantar; tempo de dançar e de pular.

Aqueles cânticos, aos poucos, perderam o sentido de serem entoados porque a igreja entrou, a seguir, num tempo de paz – e em tempos de paz acontece de tudo. Em tempos de paz o espírito de guerra contra Satanás desaparece; o mundo já não é tão ruim; a prosperidade é bem-vinda e, por ser tempo de aceitação, tudo e todos são aceitos como parte da nova família de Deus!

Não quero que meu leitor habitual pense que estou na fase depressiva. Nada disso. Estou vivendo a fase consciente. Mas, vejo que é tempo de ficar calado. Se abro a boca e prego sobre a necessidade de arrependimento, as pessoas não entendem, e a igreja não reage. Se prego sobre o aprofundamento espiritual e a identificação com a morte e ressurreição de Cristo, por mais que explique, as pessoas não entendem, nem os antigos na fé. Falar em guerra espiritual é divertimento; contar os feitos de guerra de Deus aqui na terra parece história doutro mundo; da carochinha!

O texto que encabeça este artigo fala do que estava acontecendo em Susã. Fizeram um complô para destruir todos os judeus; a cidade inteira ficou sabendo, mas ninguém podia fazer alguma coisa, porque o decreto foi assinado pelo rei. Por isso o texto afirma que a cidade de Susã ficou perplexa. Perplexidade não é pecado. Perplexidade é quando não se sabe o que fazer, que rumo tomar e que atitude ter. Perplexidade é quando não sabe a quem ouvir, como o povo no dia de pentecostes que ao ouvir cada um falando em seu próprio idioma não sabia o que fazer (At 2.12, 26; 5.24). Por isso perguntaram: “O que fazer, pois, irmãos?”.

Como Paulo afirmou “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados” (2 Co 4.8). Se o leitor entender direito o termo perplexidade, verá que a igreja está perplexa diante dos acontecimentos mundiais, e, diante dos acontecimentos no Brasil. Não me refiro aos acontecimentos na área política, sobre leis que venham a afetar a igreja – afinal o defensor da Igreja é Jesus. A igreja é dele. Mas, parece um contracenso, refiro-me à própria igreja.

A igreja perdeu seu rumo, e os membros estão perplexos! A igreja não sabe a quem servir, se a Jesus Cristo, ao sistema, a Mamom, se segue filosofia ou teologia; se segue o que está na Bíblia ou o que os pregadores televisivos dizem. A igreja não sabe identificar o tempo em que vive, porque os tempos estão sobrepostos. Para uns é tempo de alegria e de danças; para outros é tempo de paz; para outros… Cada igreja em cada denominação vive um tempo diferente.

Por que afirmo isto? Bem, vou ser sincero com o leitor. Tomando-se todos os tempos (tempo de rir e de chorar; de prantear e de pular de alegria etc.), misturando-se tudo resulta num tempo de nada! A igreja está vivendo o tempo do nada! E o nada é um sal sem sabor!

Particularmente não ouço rádios evangélicas porque não quero encher meu coração de lixo gospel nem me tornar amargurado contra certos líderes; não vejo programas de TV dos pregadores televisivos, para que o meu coração se aperte ainda mais com o estado da igreja.

Não consigo ouvir os CDs de cantores gospel porque, sinceramente não suporto aqueles gritos de vitória; os urros de leões, os gritinhos dos cantores e cantoras que se supõem sejam de alegria. Ainda ouço CDs de cantores em que a música e a letra se encaixam perfeitamente na métrica, e que a poesia diga o que eu não consigo expressar. Não suporto participar de shows gospel nem aguento servir de marionete dos dirigentes de louvor, mas encho-me de alegria quando um dirigente de louvor apenas conduz o povo e não se deixa aparecer.

Um querido irmão me perguntou: O irmão vê DVDs de outros pregadores? Não, lhe respondi. “Ah! Eu queria lhe dar um DVD de uma pregação minha”. Obrigado, respondi, mas não tenho tempo para ouvir CDs. Em que tempo vivo eu? Tempo de não ouvir a baboseira gospel seja dos púlpitos ou dos shows. Vivo no tempo em que não leio qualquer livro nem qualquer artigo. Perdoem-me os articulistas famosos. Não visito blogs, a menos que me indiquem que ali tem algo bom para ser digerido.

Não vou a Expo disto ou daquilo porque o comércio que fazem dos crentes deixa meu sangue fervendo, e, como não sou Jesus, não sei usar o azorrague como deve ser usado. Se tivesse que responder à indagação de meu leitor, diria: É tempo de perplexidade. É tempo de reflexão. É tempo de ficar calado. É tempo de parar. Será que  Deus silenciou em relação a igreja brasileira? O grito de Castro Alves foi sincero quando escreveu Vozes d’África: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes. Embuçado nos céus?. Sei que Deus não está se escondendo nem que esteja se disfarçando, se dissimulando – o sentido de embuçado é este. Sei que Deus está vendo tudo!

João Milton em seu poema épico (cerca de 1.600) viu Deus com seu Filho ao seu lado, olhando os céus abaixo e mirando Satanás indo em direção a terra e, perguntou ao Filho se este estava disposto a morrer para salvar a humanidade que seria enganada pelo Diabo. Parece que vejo Deus, na mesma posição ao lado do Filho nos céus, olhando para a igreja. Os dois estão com os olhos marejados. Conversam e tomam uma decisão. Não sei o que decidiram.

Quando a mim – para não repetir tudo o que Habacuque viu Deus fazendo na história – fico em silêncio, ficarei na fortaleza e “vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa” (Hc 2.1).

One thought on ““Mas a cidade de Susã estava perplexa” (Ester 3.15).

  1. Que triste! Mas essa é a realidade mesmo.
    A igreja brasileira está sem direção.
    Esses dias fiquei sabendo que um casal está pensanso em sair da igreja, pq o marido está descontente com um dos pastores.
    Pq ele é manso ao admoestar, ele para ele isso é passar a mão na cabeça daqueles precisam de correção.
    Não concorda quando praga sobre servir, pregar o evangelho, lutar pela obra, ajudar,servir, trabalhar, vir nos cultos de oração. Ele quer uma igreja onde ele assista o culto e vá embora, sem se envolvar, sem se comprometer.
    Como o pastor escreveu, quando se prega sobre a cruz, sobre o terror do pecado, buscar a face de Deus, santidade… O povo fica com cara de “UÉ?”. Triste, para nós tem sido tempo de chorar e clamar a Deus que desperte o seu povo.
    No amor do Senhor.
    Jacyhara.

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