Igrejas e franquias

Durante anos venho postando neste site opiniões a respeito do espírito denominacional que opera em igrejas que dizem ser indenominacionais, ou apenas igrejas locais.

Tenho profunda admiração por pastores que trabalham em denominações, mas não são denominacionais em seus corações. Conheço muitos pastores que pastoreiam igrejas históricas e pentecostais, e no entanto, têm uma visão de igreja que vai além do que creem seus líderes denominacionais. São homens de Deus que estão em denominações e não são denominacionais em seus corações. E sabem que estão na igreja!

Contrastando com esses, conheço muitos outros que são pastores de igrejas locais e têm um coração mais denominacional do que aqueles que estão em igrejas históricas ou pentecostais. Preciso esclarecer que tais líderes possuem uma visão de igreja e acreditam que alcançaram tal maturidade que se consideram seres espirituais superiores e não suportam conviver com os demais pastores de sua cidade.

O que vou abordar aqui, no entanto é mais sério que isto. Líderes de igrejas que declaram orgulhosamente que não são denominacionais, afirmando que seguem o princípio bíblico da igreja da localidade; e dizendo que suas igrejas locais têm presbitérios plurais, e que estão ligados em “cobertura” nacional ou internacional com alguma liderança. São igrejas que não tem nome ou que se intitulam apenas em seus sites e blogs como “igreja da cidade tal”. Isso mesmo, esses amados irmãos se declaram líderes da igreja da cidade, porque não querem ter nome algum que os identifique como denominação. Dizem que, quando se tem um nome, faz-se da congregação local, uma denominação. Sim, temem que tendo um nome sejam tidos por denominacionais.

E, na verdade, não tendo nome, são mais denominacionais em seu espírito do que pastores que trabalham numa denominação. Por isso, não possuem nome, nem local fixo de reunião, e os irmãos se reúnem sob a bandeira de que “somos a igreja da cidade”. Antes esse título era propriedade dos irmãos chineses ligados ao ministério de Witness Lee, já falecido; agora, o título é também propriedade desses novos irmãos, apóstolos.

Essas novas denominações que usam para si o adjetivo de “igreja local”, ou “igreja da cidade tal”, com poucas exceções estão ligadas a algum tipo de liderança estadual ou nacional que lhes dá cobertura espiritual. Não são apóstolos com título, mas são tidos por seus seguidores como apóstolos da igreja. Este é o modelo que escolheram, não fosse um quesito a mais: Os líderes nacionais recebem dinheiro de todas as igrejas espalhadas no país; seja através de quotas financeiras mensais proporcionais às entradas financeiras do grupo – geralmente de 10 a 30 por cento – ou quotas mensais fixas.

Venho observando duas coisas com esse tipo de liderança neo-apostólica:

1. Um estilo de vida marcante e nababesco nas cidades onde residem e onde mantêm sua sede.

2. Um estilo de vida mundano sob a capa da espiritualidade e da visão que Deus lhes deu da igreja.

Geralmente esses apóstolos ou coberturas, com a desculpa de que estão fazendo a obra de Deus, vivem bem abastados financeiramente, morando em belíssimas coberturas ou em condomínios de luxo, viajando constantemente para o exterior para atender um núcleo de vinte pessoas em uma cidade qualquer do Brasil, dos Estados Unidos, da Europa ou da Ásia, geralmente o Japão. Os brasileiros que vivem no exterior e que fazem parte das igrejas desses líderes cooperam financeiramente com grandes somas, o que dá um status maior ainda ao suposto apóstolo. Viajam constantemente para o exterior com a desculpa de que vão atender as igrejas, mas, na realidade para satisfazer a sanha da riqueza e da fortuna. Nem é preciso dizer que costumam ter amizade, apenas com pessoas ricas de sua comunidade ou das igrejas que vivem debaixo de sua franquia.

O estilo de vida mundano – totalmente diferente da cultura evangélica – é outra de suas marcas. Só frequentam os melhores restaurantes, não aceitam viajar em empresas que não lhes ofereça vantagens e bebem, comem e – pasmem! Até puxam uma cigarrilha, porque, com isto, pretendem mostrar que não são evangélicos nem cristãos, nomes tão pejorativos hoje em dia, mas apenas discípulos de Cristo!

Li relatos de que numa ocasião gastaram num almoço o equivalente ao preço de dois fuscas usados; de que esses apóstolos bebem tanto uísque – e preferem só os mais famosos, cerveja e vinho que foram observados em várias ocasiões pregando bêbados! Sim, são os novos apóstolos da igreja. Mas, ninguém lhes repreende, por que, quem ousaria falar alguma coisa a essas autoridades espirituais?

Esses novos líderes da igreja – que recusam ser evangélicos ou cristãos – e sim discípulos, mantêm uma estrutura de governo autoritária, a que chamam de autoridade espiritual. E por serem líderes espirituais, com autoridade espiritual determinam o que a igreja de cada cidade deve fazer, viver e doar financeiramente. São igrejas que não tem “estatuto” porque o estatuto é a Bíblia. Ou pior: O estatuto está na cabeça deles, e, portanto, podem mudar de ideia a respeito de qualquer coisa, porque eles são os iluminados de Deus, ou reformistas da igreja.

As igrejas locais que eles supervisionam são, na realidade, pequenas franquias. Não uma franquia de nome, nada disso. São franquias no sentido de que naquele pequeno grupo de discípulos todos devem pensar e viver conforme pensam e vivem seus líderes nacionais. Neste sentido desrespeitam o princípio magno de que a igreja da localidade deveria ser  autônoma. E são franquias porque o grupo de discípulos da cidade tem de enviar os lucros para seus “apóstolos”. Esses líderes que afirmam não serem denominacionais, são os piores denominacionais que conheço!

Certa ocasião fui convidado pelo conselho de pastores de uma cidade para uma conferência. Pastores de todas as igrejas da cidade uniram-se para fazer a conferência levando-me até lá para lhes ministrar. Você acha que esses discípulos – que eu conhecia e sabia que viviam naquela cidade – participaram? Nada disso. Isso se repetiu três vezes. É esse espírito de divisão denominacional que faz desses grupos a pior das denominações, inda que continuem afirmando que não são denominações, mas igreja da cidade.

E estes novos apóstolos se consideram os novos reformadores da igreja – mas, não são reformadores nem mesmo da denominação que controlam com mão de ferro. E o que é pior, tais líderes costumam criticar as denominações, esquecendo que as principais denominações desse país operam nas vilas e bairros pobres, atendendo os necessitados, enquanto esses novos apóstolos vivem no luxo e na riqueza e seus “discípulos” nada conseguem fazer nas vilas e áreas pobres de sua cidade, afinal, o dinheiro tem que ir pras suas lideranças!

E existem vários centros operacionais desses novos apóstolos no Brasil, do Sul ao Norte, do Nordeste ao Centro Oeste. Estes novos apóstolos e presbíteros criticam os bispos e apóstolos das igrejas neopentecostais, mas vivem o mesmo estilo de vida destes. São líderes opressores, autoritários, que lideram com mão de ferro suas franquias espalhadas por todo o país e pelo exterior.

Que Deus tenha misericórdia desses novos apóstolos da igreja, e também de seus discípulos marionetes!

Se você é um verdadeiro apóstolo, nem seu preocupe com a crítica. Continue a fazer a obra de Deus e a supervisionar a igreja de Jesus Cristo. Não se espelhe nos maus exemplos!

 

 

21 thoughts on “Igrejas e franquias

  1. Simplesmente perfeita a análise feita por você, Pr. João.
    Conheço também este tipo de gente.
    Que vivia me cutucando para eu me unir a um ministério em minha cidade (O que não fiz, pois não tive a confirmação do PAI), mas que hoje tem um grupo aqui mesmo em nossa cidade.
    E porque não quis se unir a mim?
    A receita só serve para os outros.

  2. Caro Pastor, hoje o que vemos é um espetáculo com a necessidade das pessoas e é por isso, como o senhor já o disse, que o juízo começará pela Igreja, que o Senhor tenha misericórdia de todos.Walkiria Blane Galindo

  3. A questão da franquia é bem explícita em algumas determinadas igrejas.
    Há “metas” financeiras a serem cumpridas ou suplantadas, sob o pretexto de serem gerados por DEUS no coração do LÍDER central da igreja o qual estipula um valor mínimo de “oferta voluntária” porém quem não é adepto a esta oferta “NÃO É ABENÇOADO POR DEUS” e só é abençoado quem faz a tal oferta mínima de 30 (trinta reais) por mês, mensal por membro e quem é líder de célula tem meta também para cumprir.
    Ouvi um apelo neste sentido e foi bem constrangedor, pois ao invés de deixar que o Espírito Santo convencer, não acontece tem de cumprir a meta, deixando de ser voluntário como em êxodo, “e todo aquele que DEUS moveu o coração” não é mais por livre opção e sim por imposição, pois não havendo a adesão ao “PROJETO” DEUS não abençoa!!
    Também o comentário de que alguns irmão na igreja estavam passando por problemas financeiros justamente porque não eram adeptos do “PROJETO”, e se alguém quer ganhar um salário melhor, ou ter a vida mais próspera tem de ser adepto do “PROJETO” não se fala em santidade e sim pagar todo mês o “PROJETO”.
    Quero deixar bem claro que não sou contra nenhuma forma de se levantar ofertas, mas que elas seja voluntáraias e não condicionadas a isso ou aquilo, se não for “PARCEIRO” DEUS não vai abençoar praticamento se lança maldição nos demais membros da igreja.
    Eu até deseja ardente mente ivestir no PROJETO e investi mais de dois anos, porém quando passou pra apelação, e testemunhos de casas, apartamentos, carros e outras coisas que depois não se confirmavam… testemunhos finceiros porém a vida pessoal nada atransformada.
    Aonde realmente está a bêncão…
    Enfim acabou o livre arbítrio agora é a imposição, onde está a liberdade em CRISTO???

  4. É tão bela a igreja local que possue um líder que faça seus irmãos se apaixonarem cada vez mais com Jesus, uma igreja que busca a orientação de Deus antes de fazer coisas mecânicas e forçadas.

  5. Querido fiquei muito alegre em saber que sou marionete. Sou um discipulo da Igreja em Sabará/MG.
    Eu ao contrário que possa parecer não quero defender nem atacar.
    Só fico triste que haja um site preocupado em julgar irmãos.
    Desculpe-me pois acredito o segredo ser: falar Daquele que me chamou das trevas para sua maravilhosa luz.
    A propostio Asaph Borba é da minha visão de igreja. Ele e Daniel de Souza.

    1. Geraldo Pena. Que “pena” que você entendeu mal o meu artigo. O Asaph é meu amigo, estamos sempre juntos. Sei do trabalho que ele realizada e também o Daniel de Souza, a quem muito estimo. Felizmente estes não fizeram da igreja franquia! Mas, alguns pelo Brasil à fora fazem da igreja franquia, tanto nas denominações como nas igrejas locais. Seus líderes ou”coberturas” nacionais vivem nababescamente. Disso sou testemunha. A simplicidade, a humildade e a visão do Reino de Deus são próprias do Asaph, mas certos grupos que dão cobertura pelo país à fora, pecam empregando mal o dinheiro dos dízimos dos dízimos. Não se ofenda, apenas estude essa questão à luz da Bíblia e verá que nem sequer a palavra cobertura espiritual aparece nos textos do NT. O ministério apostólico, esse sim, aparece com toda sua força, especialmente quando é exercido na simplicidade e no amor, nunca como forma de exploração.
      Deus abençoe sua vida, e lhe felicito por não fazer parte de franquias. Isso me consola!

  6. Hj em dia estao trocando oraçao por ordenanças,dizimo em trizimo, quanta distorçao da palavra de DEUS, de 100 que vc ira receber 1000.Que DEUS tenha misericordia , e nos de discernimento cada vzs mais.

    1. Temos que rir, e às vezes chorar pelo estado da igreja. Eu que pensava que as igrejas não denominacionais eram bíblicas, descobri que são verdaeiras franquias em que seus líderes “ganham” com o dízimo gordo de seus fieis, afirmando que é bíblico o pastor ficar com todos os dízimos…

  7. Perfeita análise pastor João, pois moro em vitoria-es e conheci um desses grupos que se auto-intitulam “igrejas locais”. Os lideres de tais grupos vivem uma vida de promiscuidade sem dizer que vivem brigando com outros lideres de outros estados por cobertura espiritual.Prefiro estar congregando em uma denominação que leve a sério o evangelho do que com esses grupos.

    Deus é contigo pastor João,Eberson Ribeiro.

    1. Eberson, querido. Sei de que grupos você está falando. E sei também que as igrejas desses líderes são espécimes de franquias, pois que enviam o dízimo dos dízimos para abastecer a casa dos líderes nacionais. Estes vivem na abastança porque recebem dinheiro todos os meses do Brasil todo. Só comem nos mais caros restaurantes e se hospedam em melhores hotéis. Este que lhe escreve, se hospeda onde o colocam e, por vezes come em Pizzarias de beira de calçada….

  8. Caro Pr João, tenho presenciado algo parecido aqui em Curitiba. Só não vive (ainda) nababescamente e espertamente busca cobertura espiritual. tem procurado se aliar ao conselho de pastores, mas, fala mal das igrejas, fala mal do dizimo (embora busque valores nessas igrejas). Infelizmente, ingenuamente pastores tem aberto suas igrejas para este homem disseminar suas crenças, inclusive pastores com grandes denominações. Porque será que estes pastores, tão ungidos, não conseguem enxergar isso? O pastor que dá cobertura pra ele, diz que, na verdade não dá cobertura, mas o discipula. Oras, isto é bobagem.
    Abraço, querido Pastor e continue firme em suas convicções.

    1. O dinheiro e a necessidade de se ter cada vez mais coisas e o mau exemplo de pastores como Terra Nova, Silas Malafaia para citar apenas alguns é que tem levado a isto. Mas, o pior são as Comunidades Cristãs sem nome que viraram verdadeiras franquias agindo ocultamente. Estas não aparecem porque mantêm os vínculos de maneira secreta e levam todos os dízimos para suas sedes e para seus ministérios. São perigosos demais!

  9. Eu me pergunto Pastor, o que fizeram com o evangelho?
    É horrível pensar o que um sistema dito “igreja local”
    criou. Tenho sabido que uma franquia de determinada igreja neopentecostal estava custando em mèdia 150,000,00 e que seu líder por perder para a concorrência diminui o valor para até 50.000,00. eu me pergunto que evangelho é este que o valor que se tem está no financeiro e no status e não em almas para o reino? que denominação local é essa que, perdendo eu para a concorrência tenho o poder de barganhar? somos pregadores para que almas sejam transformadas, curadas, lavadas e restauradas como mesma visão de reino ou somos concorrente? Eu digo voltemos ao evangelho urgentemente. Não todos os que dizem Senhor, Senhor entrarão no reino de Deus. O reino do Senhor não é formado de comidas e bebidas mas sim de vidas. E a graça e Paz do Senhor nos traga de volta ao evangelho que transforma vidas e que tudo isso é para a glória do Senhor. Graça e Paz. Pr Elias IBNN.VIDA

    1. Querido Elias, companheiro de lutas e da fé: Esta é a triste realidade em que vive a igreja brasileira. Franquias! Não apenas a igreja local cria franquias; comunidades e denominações também. Pastores e bispos e aqueles que não gostam de título algum se beneficiam financeiramente deste sistema de franquias. Obrigado, meu irmão!

  10. Sou o autor do Blog “A Videira” que denunciou esse grupo. Creio que você teve acesso ao meu blog ou de material reproduzido a partir dele, pois a situação da churrascaria eu presenciei, inclusive o uso de cigarillhas. Eu era pastor de uma igreja histórica e acabei caindo na onda dessa Igreja Sem Nome. Fiquei sob a liderança desses “apóstolos” de 1997 até 2006. Graças a Deus, retornei ao pastorado de minha antiga denominação e estou firme na fé reformada. Abraços

    1. Um amigo meu do Rio de Janeiro deve ter copiado seu artigo e me enviado. Hélio Silva, muito injustiçado por esses líderes. Até hoje sofre com o ocorrido tantos anos atrás. Como eu conheço esses líderes desde seu nascedouro porque eles faziam parte, quando jovens, da Comunidade Cristã que eu fundara aqui em Porto Alegre, e que dela me retirei 20 anos depois em 1995 – sem arrependimento algum – sei bem desse assunto. O que você disse é a pura verdade! A Comunidade que fundei aqui continua. Se desenvolveu na classe média, é rica, abastada, e eu voltei para as Assembleias de Deus onde congrego e de onde saio para viajar. Mas, não pastoreio igreja. Mantenha correspondência comigo.

  11. Já escrevi anteriormente para O Pr. João e para Alexandre. Sou de Macaé – RJ. E dou graças a Deus pela vida de vocês, pois vivia triste e confusa no meio deles. Pois me levava a conflitos interiores. Me sentia rejeitada, infeliz, amargurada, questionada, etc, porque não concordava com o que via. Minha família foi largada de lado. Mas quando o Alexandre Gonçalves teve a coragem de escrever e ratificada pela tua palavra pastor. Conseguimos romper mesmo sendo o meu cunhado sendo um dos pastores daqui. O relacionamento familiar ficou complicado, mas minha mãe, 2 irmãs, meu esposo, minhas filhas e eu, conseguimos romper e estamos congregando na Presbiteriana (Pr. Edilson Botelho). Ainda Não tem sido fácil, pois ainda existe um impregnação. Mas estamos rompendo. Obrigada Pr. João e obrigada Pr. Alexandre Gonçalves. Abraços.

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