Refletindo o tema da adoração

Não se pode avaliar se um projeto deu certo de um dia pro outro. Nossos métodos e práticas na igreja só merecem verdadeira atenção depois de testados ao longo de, pelo menos trinta anos de prática. Pensando nisto é que venho refletindo seriamente alguns temas da igreja, ensinamentos, práticas e métodos que defendíamos com garra, unhas e dentes, e que só agora, depois de muitos anos podem ser avaliados. Fiz este tipo de reflexão com respeito a muitos temas, partindo de minhas próprias experiências. Não estou afirmando nem determinando que as experiências ditem a verdade, mas elas nos ajudam na análise dos fatos e servem como medidores de uma idéia, filosofia, uma prática de vida, etc.

Por exemplo. Durante muitos anos fui um ardente combatente do denominacionalismo das igrejas, e ainda o sou. Para provar a mim mesmo que era possível ser igreja sem ser denominação, saí da denominação. Hoje, analisando seriamente o que faz de uma igreja denominação, concluí que nossos projetos de igreja, ao fim e ao cabo, se encaixam perfeitamente nos parâmetros que medem uma denominação. E que ninguém é indenominacional, até pelo nome próprio que o designa como João, Paulo ou Pedro. No fim e ao cabo até mesmo pequenas igrejas sem qualquer vínculo organizacional com outras acabam tornando-se denominações. Ainda sou um combatente da radicalização denominacional, ciente de que podemos fazer parte de uma denominação sem perder a essência de sermos igreja. Mas este não é meu tema aqui.

Fiz esta introdução apenas para dizer que passados mais de quarenta anos é possível fazer uma análise do caminho que a igreja tomou com respeito a liturgia de seus cultos, o louvor, a adoração e a pregação.

Quando escrevi o livro O Ministério de Louvor da Igreja a liturgia de nossos cultos era trancada, rígida e engessada. Veja bem. Eu entendo liturgia não como um ritual, mas como a contribuição daquilo que o povo oferece no serviço a Deus. Liturgia é o serviço que o povo presta a Deus e não um ritual. Pois na década de 60 até a década de 70 não eram comuns nas igrejas expressões espontâneas de louvor e adoração. Nem tão pouco música eletrônica. Estávamos saindo do órgão de fole para o Arbon elétrico e em seguida para os key boards ou teclados, hoje comum em todas as igrejas. Ouviam-se aqui e ali alguns sons estridentes de nossas guitarras e o barulho – hoje ensurdecedor – de certas baterias mal tocadas.

Ainda durante a década de sessenta as igrejas usavam apenas os hinos dos hinários nos cultos, e raramente um ou outro cântico, que alguns ainda insistem chamar de “corinhos” o que eu acho uma aberração morfológica. E como eu gostava dos tais “corinhos”, termo que abandonei há muito tempo, chamavam-me de “corinheiro”. Uma ofensa.

Neste tempo apareceram os irmãos do Evangelho Quadrangular entoando melodias mais populares em seus cultos, a maioria realizados nas tendas ou ao ar-livre. Não tenho dúvidas de que cada avivamento carrega sua própria hinologia, e os irmãos do Evangelho Quadrangular com suas músicas simples, de letras fáceis de serem memorizadas pela população de baixa renda e escolaridade, trouxeram uma grande contribuição para a igreja brasileira. Quem não conhece, “A minha alma está cheia de paz” ou “Eu vou cantar no céu”? Aquela gente que não tinha hinário nem acesso a eles celebrava com alegria simples e popular seu louvor a Deus. Quando os cânticos simples de serem entoados foram deixados de lado, a igreja diminuiu seu ritmo de crescimento. Estou certo ou errado?

Quando o Espírito Santo começou a soprar o vento do avivamento na década de setenta, pequenos cânticos de adoração começaram a ser entoados pelo Brasil. Surgiram grupos como os Jovens da Verdade e Vencedores por Cristo que trouxeram um novo estilo, mais popular, com ritmo brasileiro. Aqueles “Jovens da Verdade” relegados a segundo plano por sua denominação na época, sentados na calçada, sem saber o que fazer e para onde ir escreveram: “Não vou ficar sozinho, agora sou feliz, com Cristo no meu coração…”.

E aqui no Rio Grande do Sul nossos cultos estavam sendo inflamados por uma nova melodia de louvor. Eram cânticos de adoração e louvor. Nossos cultos no final da década de setenta não tinham hora para terminar, nem estrutura do que vem antes e depois. A adoração, a pregação, a salvação e a cura faziam parte de uma coisa só, de uma totalidade. E surge o Asaph Borba, que se converteu entre nós, com seu violão aprendendo os primeiros acordes da adoração.

Novamente, o avivamento que houve em Porto Alegre e em várias cidades do Brasil trouxe uma nova hinologia. Os avivamentos mexem com a hinódia de um povo. Foi assim com Carlos Wesley que, afirmam os historiadores, teria escrito cerca de 1600 cânticos! O Asaph está perto dos mil.

E então surgiram centros de avivamento como Goiânia, cidade dos meus amigos Robson e César, Curitiba, com o Miguel Piper, São Paulo com o Ademar de Campos, e perdoem-me não citar mais nomes porque o espaço deste artigo é bem limitado. Um nova hinologia para um novo tempo. Apareceu pela Editora Betânia, O Ministério de Louvor da Igreja, um livro que vende sistematicamente até os dias de hoje. A nova geração que nasceu a partir daí tem de ler este livro.

Durante as décadas de oitenta e noventa nossos cultos sofreram uma transformação em sua liturgia com os cânticos de adoração. Novamente a tendência histórica de uma nova hinologia para novos tempos.

É sob esta ótica que consigo analisar os cânticos do Cirilo e do David Quinlan. Eles trouxeram uma nova hinologia para a igreja, uma forma de cânticos de adoração mais intimista, pessoal, relacional entre homem e Deus. Ainda que tenha certas reservas com a tendência mântrica repetitiva, não posso ignorar que as letras de suas músicas de adoração trouxeram os adoradores para mais perto de Deus. “Abraça-me! Abraça-me! Com teus braços de amor” não seria tolerado anos atrás, mas a seqüência progressiva da adoração levou-nos a entoar esta letra e melodia com tanta intimidade, que esquecemo-nos do tempo na presença de Deus.

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