Oscar Wilde – dramaturgo e novelista irlandês – deixou uma célebre frase: “Estar alerta, eis aí vida; permanecer tranqüilo, eis aí a morte”. Na época de Oscar Wilde (1854-1900), na pacata Irlanda, apesar das constantes guerras com a dominadora Inglaterra, a violência não era como nos dias de hoje!
Viver em qualquer cidade, de pequeno, médio ou grande porte no Brasil é uma grande aventura. Escapar ileso, eis aí a vida; permanecer tranqüilo, nunca! Porque hoje não existe lugar seguro, nem na cidade, nem no campo; sena na cidade pequena ou na grande. Minha geração que cresceu em períodos áureos quando se usava tramela na porta, uma cordinha para se abrir a porta por fora, ou ainda se deixava a chave no vaso de folhagens ou debaixo do capacho não consegue entender o que aconteceu no Brasil.
Andávamos pelas ruas a qualquer hora da noite, sem temor algum. Um vândalo aqui, outro acolá recolhido pela polícia para passar a noite no xilindró até terminar a ressaca. Líamos em pé, no bonde, sentados em praças, subíamos pelos montes ao redor da cidade nas tardes de domingo disputando com os pássaros as pitangas, e ninguém nos atacava. Íamos a sós para a escola, andando quilômetros por campos e vales, ou pelas ruas da cidade, sem temor algum.
Meu Deus o que houve com o mundo?
Nossos filhos, no entanto, cresceram em casas com pátios e janelas gradeadas, com alarmes, vigiados pelas empresas de segurança. Foi-se o tempo quando podíamos tomar chimarrão tranqüilos no pátio ou na calçada vendo a vida passar.
E o que aconteceu com nossos rios? Nossos riachos e ribeiros de águas cristalinas, nossas fontes de água que jorravam continuamente durante o verão? Secaram, ficaram poluídos ou são hoje grandes cloacas a céu-aberto.
Se Paulo, o apóstolo vivesse em nossos dias, ele melhoraria seu célebre texto escrito aos cristãos de Roma. “Porque a natureza geme e suporta dores como de parto até agora”, afirmou o apóstolo, “esperando a manifestação dos filhos de Deus”. Ele diria que a natureza morreu, porque os cristãos que deveriam preservá-la, a mataram!
Imagine a notícia que ouvi durante o Foro das Águas em Porto Alegre: Em trinta anos as reservas de água potável estarão esgotadas! Poluímos tanto nossas fontes de recursos naturais que elas deixarão de existir. E dizer que ainda posso viver para ver essa desgraça!
Alerta, sim. Tranqüilidade, impossível! O futuro que nos espera é terrível!
A violência aumentará, porque as estruturas governamentais são incapazes de impedir seu avanço. O desarmamento armou os violentos, e fragmentou os fracos! E a violência aumentará! As fontes de recursos naturais se esgotam. A poluição aumenta. O que fazer?
Com a palavra os teólogos, sociólogos e antropólogos. Afinal para que vocês estudaram? Com a palavra os políticos, bons e ruins. Afinal vocês foram eleitos por nós e estão nos postos de governo para conseguirem soluções. Com a palavra o Presidente da República e as Forças Armadas! Com a palavra, a sociedade!
De resto assistiremos de nossa janela gradeada o mundo que se esvai!